quinta-feira, 19 de julho de 2012

SER ZEN

“Ser zen não é ficar numa boa o tempo todo, de papo para o ar, achando tudo lindo sem fazer nada.
Ser zen é ser ativo. É estar forte e decidido. É caminhar com leveza, mas com certeza. É auxiliar a quem precisa, no que não precisa e não no que se idealiza.
Ser zen é ser simples. Da simplicidade dos santos e dos sábios. Que não precisam de nada. Nada mais que o necessário.Para o encontro, a comida, a cama, a diversão, o trabalho.
Ser zen é fluir com a vida. Sem drama, sem complicação. Na hora de comer, come comendo, sem ver televisão, sem falar desnecessariamente. Sente o sabor do alimento, a textura, o condimento.Sente a ternura (ou não) da mão que plantou e colheu, da terra que recebeu e alimentou, do sol que deu energia, da água que molhou, de todos os elementos que tornam possível um pequeno prato de comida à nossa frente.Sente gratidão, não desperdiça.
Come com alegria para satisfazer a fome de todos os famintos. Bebe para satisfazer a sede de todos os sedentos. Agradecendo e se lembrando de onde vem e para onde vai.
A chuva, o sol, o vento. O guarda, o policial, o bandido, o açougueiro, o juiz, a feiticeira, o padre, a arrumadeira, o bancário e o banqueiro, o servente e o garçom, a médica e o doutor, o enfermeiro e o doente, a doença e a saúde, a vida e a morte, a imensidão e o nada, o vazio e o cheio, o tudo e cada parte.
Ser zen é ser livre e saber os seus limites.
Ser zen é servir, é cuidar, é respeitar, compartilhar. Ser zen é hospitalidade, é ternura, é acolhida. Ser zen é o kyosaku, bastão de madeira sábia, que acorda sem ferir, que lembra deste momento, dos pés no chão como indígenas, sentindo a Terra-Mãe sustentando nossos sonhos, nossas fantasias, nossas dores, nossas alegrias.Ser zen é morrer. Morrer para a dualidade, para o falso, a mentira, a iniqüidade. Ser zen é renascer a cada instante. Na flor, na semente, na barata, no bicho do livro na estante. Ser zen é jamais esquecer de um gesto, de um olhar, de um carinho trocado no presente-futuro-­passado.Ser zen é não carregar rancores, ódios, cismas nem  terrores. Ser zen é trocar pneu, as mãos sujas de graxa. Ser zen é ser pedreiro, fazendo e refazendo casas. Ser zen é ser simplesmente quem somos e nada mais.É ser a respiração que respira em cada ação. É fazer meditação, sentar-se para uma parede, olhar para si mesmo. Encontrar suas várias faces, seus sorrisos, suas dores. É entregar-se ao desconhecido aspecto do vazio. Não ter medo do medo. Não se fazer ou, se o fizer, assim o perceber e voltar. Ser zen é voltar para o não-saber, pois não sabemos quase nada. Não sabemos o começo, nem o meio, muito menos o fim. E tudo tem começo, meio e fim. Ser zen é estar envolvido nos problemas da cidade, da rua, da comunidade. É oferecer soluções, ter criatividade, sorrir dos erros, se desculpar e sempre procurar melhorar. Ser zen é estar presente. Aqui, neste mesmo lugar. Respirando simplesmente, observando os pensamentos, memórias,aborrecimentos, alegrias e esperanças. Quando? Agora, neste instante. É estar bem aqui onde quando se fala, já se foi. Tempo girando, correndo, passando, e nós passando com ele. Sem separação. Ser zen é Ser Tempo. Ser zen é Ser Existência.
Monja Coen

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