Certa vez, perguntaram a um filósofo se Deus perdoa. Após
refletir um tanto, ele respondeu com outro questionamento: Para perdoar é
necessário sentir-se ofendido?
De pronto o interlocutor respondeu:
Sim. Se não há ofensa, como haveria perdão? Retornou ele novamente para o
filósofo.
Esse então, calmamente respondeu: Logo, Deus não perdoa!
Embora a resposta nos
pareça estranha, traz em si reflexões de grande monta.
A primeira delas é a de que muito melhor
que perdoar, é não se sentir ofendido. E para isso, é necessário que a
indulgência esteja em nossa mente, que a benevolência esteja em nossas ações.
Porém, quem já não se sentiu ofendido? Ainda trazemos muitas
dificuldades na alma. O orgulho, a vaidade, a pretensão, todos reunidos na
alma, nos fazem criaturas com grande dificuldade em não se ofender.
Às vezes, o ofensor nem percebe
que nos magoou, quando acontece de não conseguir avaliar as nossas limitações
emocionais. Outras tantas, percebe, tenta remediar, mas o mal já está feito...
A ofensa já nos atingiu.
Assim, se ainda nos ofendemos,
devemos aprender a perdoar. Porque será o perdão que conseguirá tirar a nódoa
da ofensa dos tecidos de nossa alma.
Se a ofensa nos pesa no coração,
atormenta a alma e perturba a mente, o perdão nos fará leves novamente, tranqüilizando
a alma e sossegando a mente.
Dessa forma, todo esforço para perdoar deve
ser levado em conta, sem economia de nossas capacidades emocionais e racionais.
É claro que o perdão não se
instaura imediatamente, e ainda, quanto mais magoados e ofendidos, maior a
intensidade das dores. Talvez, mais esforço nos seja demandado.
Assim, comecemos o
exercício do perdão assumindo que a raiva, a mágoa, a ofensa existem em nosso
coração. Enquanto fingirmos que perdoamos, apenas pelos lábios, sem passar pelo
coração, nada acontecerá.
Em seguida, busquemos
compreender a atitude do outro, daquele que nos ofendeu. Talvez tenha sido um
mau dia para ele. Ou esteja passando por uma fase difícil. Ou ainda, talvez ele
mesmo seja uma pessoa com grandes feridas na alma. Por isso, mostra-se tão
agressivo.
Após compreender,
exercitemos pequenos passos de aproximação. Primeiramente, suportemo-lo,
enfrentando os sentimentos ruins que poderão brotar em nossa alma, nesse
primeiro instante. Mas, persistamos na convivência, por alguns instantes que
seja.
Em seguida, demos espaço
para a tolerância, ensaiando os primeiros passos do relacionamento, mesmo que
distante e ainda um tanto frio.
Em seguida, estreitemos um
pouco mais o relacionamento, através da cordialidade e do coleguismo.
Não tardará para que
sejamos capazes de retomar a fraternidade e administrar o ocorrido, em nossa
intimidade.
Afinal, o perdão exige o
esquecimento. Porém, não esqueceremos o fato, aquilo que nos causou a
mágoa, já que isso se mostra quase impossível.
O esquecimento que o perdão
provoca é o da mágoa, da ofensa.
Quando pudermos olhar nos olhos daquele
que nos magoou, com tranquilidade e paz no coração, aí estará implantado em
nossa alma, o perdão.
(Momento em Casa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário