quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Os Arquivos Sexuais dos Nazistas - Parte I

Os esforços da propaganda britânica para desmoralizar os alemães na Europa.

Narrador: Ano passado, arquivos secretos da 2a. Guerra foram liberados para o público. Chamados de “Histórias dos Sexologistas”, eles mostram como um departamento clandestino do governo usou a difamação sexual contra os líderes nazistas.
Narrador: Enquanto os pornógrafos de Sua Majestade minavam a moral alemã através da “propaganda negra”, os americanos conduziam uma investigação secreta sobre a vida sexual de Adolf Hitler. Este filme conta a história dos arquivos sexuais dos nazistas.
Letreiro: Os Arquivos Sexuais dos Nazistas.
Locutor rádio: Aqui fala Londres.
Narrador: Durante a guerra, na Alemanha Nazista e por toda a Europa ocupada, pessoas comuns arriscavam punição para sintonizar a BBC.
Locutor rádio: Londres chamando neste início de transmissão...
Narrador: As transmissões da BBC eram conhecidas por sua probidade e objetividade. Whitehall as chamava de “propaganda branca”. Mas outras estações de rádio britânicas transmitiam programas baseados em insinuações, mentiras e difamação. Era a “propaganda negra”.
Professor Foot: A propaganda negra era tão vergonhosa, indecente e dissimulada que o governo não queria admitir sua participação.
Molly Izzard: Quando comparado ao tom dúlcido da BBC ... (risada) e o “Aqui fala Londres” ... (risada) era uma verdadeira bomba.
Narrador: Em 1943, Molly Izzard juntou-se a um departamento secreto do governo chamado Diretório de Guerra Política. Ficou estacionada num local secreto no campo, a 70 quilômetros de Londres.
Molly Izzard: Era um mistério para os nativos. Um mistério total. Havia uma instalação enorme... isolada por guardas de segurança. Ficava escondida do vilarejo. Hoje em dia, o lugar está em ruínas.
Marion Whitehorn: Recebemos ordens de não dizer nada sobre o que fazíamos ou com quem trabalhávamos. O brigadeiro me avisou que, se eu divulgasse qualquer coisa, ficaria anos na prisão.
Narrador: O Diretório de Guerra Política era uma subdivisão do Diretório de Operações Especiais. Ambas as organizações tinham agentes secretos operando atrás das linhas inimigas, mas enquanto o trabalho do DOE era sabotagem, e o do DGP era subversão.
Professor Foot: O objetivo era desestabilizar qualquer área sob controle inimigo, instigar rebeliões entre os povos subjugados e fazer com que os próprios alemães perdessem a fé na hierarquia nazista.
Narrador: O DGP usava várias técnicas para disseminar sua propaganda negra. Gustav Ziegfried Eintz era uma de suas criações mais imaginativas. Uma estação de rádio secreta que supostamente transmitia de dentro do Terceiro Reich. Na verdade, a estação ficava na mansão Rookery, no vilarejo de Asperley Guise, em Hertfordshire. O primeiro programa foi ao ar no dia 23 de maio de 1941 e focalizava um evento extraordinário que havia acontecido um mês antes.
Letreiro: O Escocês que Capturou Hess.
Locutor movietone: Seu nome é David McClay. Ele viu Rudolf Hess aterrissando de pára-quedas na escuridão. Vamos ouvir sua história.
David McClay: Sim, fui eu quem capturou Rudolf Hess, mas eu não tinha idéia da importância dele.
Narrador: Quando o dirigente nazista Rudolf Hess aterrissou na Escócia numa missão de paz mal-julgada, os propagandistas do DGP aproveitaram a oportunidade para entrar no ar pela primeira vez. Um personagem chamado “Der Chef” começou a esbravejar contra Hess, o traidor.
Intérprete: Ele não teve estômago para agüentar uma crise. Assim que ele soube das dificuldades que enfrentaremos no futuro, o que ele fez? Perdeu a cabeça, fugiu e se entregou para aquele judeu beberrão, Churchill!
Leonard Miall: Nós nos referíamos a Churchill como “aquele Negro bêbado”, e ao rei como “aquele gago idiota no trono”. Dizíamos coisas você não esperaria que fossem ditas na Grã-Bretanha. Foi uma das coisas que fez com que as pessoas acreditassem que vinha de dentro da Alemanha. Der Chef seria um nazista fanático que pensava que Hitler e seus coortes haviam amolecido. Ele dizia estar transmitindo de uma estação de rádio secreta, em algum lugar do Terceiro Reich. Na verdade, ele era uma criação de Sefton Delmar, diretor da divisão alemã do DGP. Delmar teve a grande idéia de colocar coisas muito sujas no ar que as pessoas logo comentariam e ajudariam a espalhar.
Professor Foot: O material pornográfico não era dirigido aos oficiais, é claro, mas aos soldados e marinheiros comuns, que teriam interesse e capacidade simplória de serem fascinados por detalhes sexuais. Não era um material dirigido aos oficiais de maneira alguma.
Narrador: As transmissões negras tinham como objetivo semear a dúvida e o ressentimento nas tropas da linha de frente. O DGP misturava histórias de corrupção e incompetência junto às fofocas sexuais sobre os comandantes nazistas.
Professor Foot: A pornografia era usada como atrativo para que ouvintes absorvessem o que o programa informava. Eram histórias sobre a vida privada do alto comando, muitas delas baseadas em fatos, ou histórias sobre o que os trabalhadores estrangeiros estavam fazendo com as esposas e namoradas das tripulações de submarinos e dos soldados no front.
Narrador: Nenhuma das transmissões pornográficas do DGP sobreviveu, mas os arquivos liberados para o registro público contêm o que parecem ser esboços de roteiros para as transmissões de propaganda negra. As “Histórias dos Sexólogos” são uma lista dos pecados sexuais dos dignitários nazistas. São baseados em fatos colhidos por agentes e recheados de histórias vulgares para ridicularizar e minar os alvos.
Homem com sotaque alemão: Willi Buckmann é um homossexual depravado. Seu namorado favorito se veste como mulher. Gumshliter Tieneman é um flagelador que se excita batendo na empregada com uma vara. Oberleutnant Scmidt é um homossexual e um pintor que se entrega as mais fantásticas orgias.
Narrador: Algumas das histórias eram boatos, mas a maioria tinha base factual. O DGP tinha uma equipe de pesquisadores baseada na Suíça, que lia os jornais alemães e passava qualquer história ou detalhe que pudesse dar autenticidade às transmissões negras.
Leonard Miall: Era muito importante dar veracidade às histórias. Tínhamos que saber o apelido dos alvos para mostrar que nós os conhecíamos. Como dizíamos que estávamos transmitindo de dentro da Alemanha, era essencial saber os detalhes para depois destorcer os fatos.
Narrador: Um dos alvos do DGP foi Christian Weber, líder do partido em Munique. Os sexólogos descobriram que seu apelido era “o garanhão de chancelaria”. Arquivos datados de julho de 1945, diziam:
Homem com sotaque alemão: Christian Weber é bem conhecido por suas orgias. A atração desta vez era uma grande roda de roleta, na qual uma mulher nua estava amarrada. Weber, bêbado como sempre, atuava como crupiê, girando a roleta. Um grupo de homens da SS formava um círculo em volta da mesa. O cavalheiro em frente à mulher quando a roda parava fazia as honras.
Narrador: As transmissões de Der Chef eram tão autenticas que enganaram até os americanos. Em 1941, a embaixada americana em Berlim avisou Washington de que havia uma estação de rádio ilegal usando um linguajar incrivelmente obsceno.
Homem com sotaque americano: Superficialmente, é violentamente patriótica, e muitos oficiais alemães acreditam que seja apoiada secretamente pela Wermacht.
Narrador: Quando o presidente Roosevelt soube que era uma operação secreta do DGP, ele achou muito engraçado. Mas em Londres, o governo estava dividido quanto ao uso da obscenidade. Um ministro anunciou que preferia perder a guerra do que ganhá-la usando os métodos empregados por Sefton Delmar.
Molly Izzard: Eles achavam que não era britânico, sabe? Não queriam se contaminar, não queriam ter nada a ver com aquilo. “Se Delmar quiser usar essas obscenidades, problema dele, mas nós não queremos nada com isso.”
Narrador: Mas os puritanos não prevaleceram. Foram avisados que esta seria uma guerra suja, e o DGP recebeu ordens de expandir. Em 1942, no auge da Batalha do Atlântico, o almirantado pediu uma nova estação de rádio para atacar a moral das tripulações dos submarinos alemães. O DGP criou a Rádio Atlantic Sender, que tinha uma formula nova e muito bem sucedida de atrair os ouvintes. Tocava jazz, que havia sido banido pelos nazistas e tachado de decadente.
Professor Foot: O operador de rádio do submarino ficava tentando sintonizar alguma coisa, e quando encontrava um jazz decente, parava para escutar. Isso atraia vários ouvintes e gerava o interesse dos tripulantes. Aí, nós misturávamos um pouco de propaganda política e um pouco de propaganda sexual com a intenção de fazê-los acreditar que o Alto Comando dos U-Boats não prestava.
Homem com sotaque alemão: O Almirante Alberecht tem 61 anos e mantém Uta Fraber como amante. Devido a sua idade, ele é basicamente um voyeur. Uta escolhe um grupo de submarinistas secos por sexo e, depois de alimentá-los, se entrega a cada um deles.
Narrador: A estação de rádio mais bem sucedida era a Soldaten Sender, Calais, que transmitia para os soldados alemães que ocupavam o norte da França. O cabo Alfons Schulz era um ouvinte habitual.
Intérprete: Funcionava como propaganda porque usava o linguajar dos soldados, porque era dirigido aos soldados e tocava a música que os soldados queriam ouvir. As transmissões eram num linguajar apropriado para os soldados. Usava as expressões certas e conhecia os gostos e as preocupações deles. Mexia com o ponto mais vulnerável dos soldados.
Narrador: Como de costume, a estação transmitia uma mistura de sexo e escândalo sobre os líderes nazistas, como Robert Ley, Ministro do Trabalho e responsável pela máquina de guerra do Terceiro Reich.
Homem com sotaque alemão: Ley é um bêbado, conhecido por sua predileção por prostitutas. Recentemente, ele deu abrigo a uma meretriz de La Baule chamada Gizelle.
Narrador: O DGP montou um ataque prolongado contra Ley. Transmitiu rumores de que o ministro recebia rações de luxo enquanto pedia que o povo alemão se sacrificasse. Muitos alemães passaram a comentar a história. Uma mulher foi condenada a seis meses de prisão por repeti-la, e Ley foi forcado a se defender publicamente. As transmissões de rádio eram reforçadas por um panfleto jogado sobre a Alemanha. Foi produzido por uma divisão especial do DGP responsável por propaganda negra impressa. Marion Whitehorn tinha 21 anos quando começou a trabalhar como artista no DGP.
Marion Whitehorn: Às vezes riamos das besteiras que tínhamos que fazer, mas fazíamos o nosso trabalho e esperávamos que tivesse efeito. Se não levássemos aquilo a sério, não teríamos feito um bom trabalho.
Narrador: Durante a guerra, Marion e sua unidade produziram milhares de panfletos, dos quais milhões foram impressos. O trabalho deles era distribuído através do Terceiro Reich das formas mais engenhosas. Muitos eram contrabandeados para a Europa ocupada por agentes secretos. Outro método de entrega era através de balões.
Narrador: Os panfletos eram dirigidos às tropas na frente de batalha e usavam fontes e gírias autênticas para passar a impressão de que eram produzidos pela resistência alemã. Esta é uma série que perguntava “até quando?” A falsificação de material da resistência era uma das especialidades de Marion.
Marion Whitehorn: Este foi feito por mim. A palavra “scheisse” significa merda, e estes dois esses são o símbolo da SS. Tinha cola nas costas e foi produzido e despachado aos milhões. Os espiões os levavam e colavam em vários lugares, nas costas das pessoas e tudo mais. Sabe lá onde isso tudo foi parar.
Narrador: Como nas transmissões de rádio, os artistas não tinham vergonha de usar o sexo. Vários panfletos explícitos foram produzidos. No fim da guerra, o governo ordenou que o DGP destruísse os panfletos. Mas apesar dos esforços para higienizar a história, alguns exemplos raros sobreviveram. Aproveitando-se do preconceito racial imbuído no povo alemão pela propaganda nazista, o slogan na frente deste folheto diz: “Querida pátria, fique tranqüila que o trabalhador estrangeiro dando duro.” Milhares foram distribuídos entre as tropas alemãs. Outro panfleto pornográfico foi planejado pelo mais alto escalão do DGP.
Marion Whitehorn: Fui convocada para uma reunião e, ao chegar lá, me deparei com vários oficiais sentados em volta de uma mesa de conferencia, estudando um cartão postal.
Narrador: O cartão postal era uma foto de Adolf Hitler, vestido com um short de couro tradicional da Baviera.
Marion Whitehorn: Quando o cartão chegou as minhas mãos, o brigadeiro apontou para mim e disse: “Você, Marion, vai colocar um pênis no cartão.” Olhei para a fotografia e vi que era Hitler, com as mãos dobradas em frente as calças, e o título dizia: “O que nós temos, nós seguramos.” “Você vai colocar um pênis aí”, disse o brigadeiro. “Mas não muito grande.”
Narrador: O trabalho de Marion foi perdido, mas um cartão postal pornográfico parecido sobreviveu à guerra. A versão do DGP teve uma impressão muito limitada. O alto escalão militar colocou um fim ao projeto. Tais táticas, pensavam eles, não eram britânicas. Mas os americanos não tinham os mesmos escrúpulos. em 1943, deram início a uma investigação secreta da vida sexual de Hitler. Suas conclusões feriam as fofocas libidinosas do DGP sobre os lideres nazistas parecerem histórias de ninar.


Fonte deste artigo: Tradução original de Nick Magrath

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