O perfil psicológico de Hitler, segundo o psicanalista Walter Lang.
Locutor movietone: A América não demorou a implementar a promessa de Roosevelt de que tropas americanas seriam mandadas para a Inglaterra.
Narrador: Quando os americanos desembarcaram na Grã-Bretanha, eles pareciam ter tudo o que o guerreiro moderno precisava. E mais.
Locutor movietone: Do alto de um dos navios, soldados americanos jogam laranjas para seus camaradas britânicos. Laranjas, eu disse. Vocês se lembram de laranjas?
Narrador: Mas havia uma coisa que os americanos gostavam. O serviço secreto de inteligência. Então, o presidente Roosevelt que um famoso herói da primeira guerra, o general Wild Bill Donavon, montasse o Escritório de Serviços Estratégicos. Betty McIntosh foi uma das primeiras recrutas da nova agência secreta.
Betty McIntosh: Quando Donavon montou o ESE, ele contou com a ajuda dos britânicos porque, como todos sabem, eles faziam esse tipo de trabalho desde a época da Rainha Elizabeth. Portanto, trabalhamos de mãos dadas com os britânicos, o que foi muito importante para a agência.
Narrador: Com a ajuda do DGP, o ESE montou sua própria unidade de propaganda negra – o Departamento de Operações de Moral.
Ned Putzell: O DOM era responsável por ações estranhas as atividades militares tradicionais. Nosso trabalho era desestabilizar o inimigo e minar sua vontade de resistir. Usamos propaganda negra de todos os tipos, como você pode imaginar. Marlene Dietrich falou com os alemães em alemão para o ESE na Segunda Guerra.
Narrador: Ao contrário de seus colegas britânicos, o Departamento de Operações de Moral não privou-se de alvejar Adolf Hitler. Eles queriam entender a cabeça do Fuhrer.
Betty McIntosh: A idéia era que, se pudéssemos descobrir o que fazia Hitler agir da forma que ele agia, se pudéssemos descobrir suas fraquezas, poderíamos então atingi-lo de várias maneiras; através da guerra psicológica ou até enviando alguém para matá-lo. Esta seria a base com a qual trabalharíamos.
Narrador: Nesta época, o Dr. Walter Langer era um dos maiores psicanalistas de Harvard. Em 1943, Wild Bill Donavon o pediu para usar seu treinamento freudiano para compreender como funcionava a mente de Hitler.
Ned Putzell: Walter Langer era um homem muito recluso e introspectivo. De início, eu o achei estranho e professoral, mas foi um colega simpático quando finalmente consegui quebrar o gelo.
Narrador: Em abril de 1943, Langer recrutou uma equipe de pesquisadores para ajudá-lo com sua analise. Donavon havia lhe dado somente quatro meses para completar seu relatório. Eles se valeram de duas fontes básicas de informação. A primeira parada foi a Biblioteca de Nova Iorque, onde eles leram tudo o que havia sobre o Fuhrer. Mas Langer queria mais do que livros para a sua analise. O FBI vasculhou a América atrás de pessoas que haviam conhecido o Fuhrer. Encontraram dúzias de testemunha, inclusive emigrantes, refugiados e desertores nazistas. As entrevistas deram a Langer uma coleção de provas tão extraordinárias quanto controvertidas.
Ned Putzell: Foi um projeto altamente secreto. Eles se valeram de várias fontes, mas tudo era guardado a sete chaves.
Narrador: O relatório final de Langer é composto de 269 tópicos e mais de 1.100 páginas. Foi montado um índice intricado de todas as facetas da personalidade de Hitler. Sua afeição por animais, seu anti-semitismo, seu gosto por pudim de maça e seu complexo de messias. Como psicanalista freudiano, Langer acreditava que o comportamento sexual de Hitler forneceria pistas de sua personalidade.
Ned Putzell: Existiam muitos boatos sobre sua estranha personalidade sexual. Era um aspecto importante do estudo porque, como bem sabemos, o sexo tem um papel importante na obtenção de informação.
Entrevistador: Então o relatório podia ter sido usado para fazer chantagem?
Ned Putzell: Sim, chantagem e vários outros propósitos.
Narrador: Mas as provas colhidas por Langer sobre a vida sexual de Hitler não eram consistentes. Algumas testemunhas disseram que Hitler era um homossexual. Ele foi descrito como promiscuo, pervertido e impotente. O índice inclui os nomes de mulheres associadas a Hitler. Na lista estão várias jovens, que de acordo com algumas testemunhas, eram o ponto fraco do Fuhrer.
Voz em off: Seu maior prazer era seduzir virgens. Henny tinha 14 anos quando Hitler a seduziu.
Narrador: A visão de Langer sobre a sexualidade de Hitler baseou-se em grande parte no relato de um grupo de testemunhas chaves. Um dos entrevistados era um diretor de cinema americano chamado Arnold Ziesler, que havia feito filmes na Alemanha nos anos 30. Ziesler contou a Langer como Hitler lhe pedia para mandar atrizes para a Chancelaria, onde ele as entretinha com histórias sobre métodos medievais de tortura. De acordo com Ziesler, a atriz Renata Muller era uma de suas favoritas.
Narrador: Nos anos 30, Hitler era o melhor partido da Alemanha. Renata, como muitas mulheres, era louca para ter um caso com ele. Numa certa ocasião, ele teria mostrado a ela como ele podia manter o braço direito erguido na saudação nazista por horas a fio sem se cansar. Às vezes, seu comportamento era ainda mais estranho. Em seu relatório, Langer parafraseou o que Ziesler havia contado sobre o relacionamento de Renata com o Fuhrer. Nós reconstruímos o que ele escreveu usando suas próprias palavras.
Walter Langer: Um dia, Ziesler encontrou Muller muito deprimida. Ela disse que a noite anterior tinha sido um desastre. Ela estivera convencida de que o Fuhrer iria ter sexo com ela. Os dois haviam se despido quando Hitler se jogou no chão, suplicando que ela o chutasse. Ela hesitou, mas ele arrastou-se aos seus pés, suplicando. Finalmente, ela fez sua vontade e o chutou. Isto o excitou ainda mais. Ele pediu mais e mais, dizendo não ser digno. Cada vez mais excitado, como clímax final, ele se masturbou. Depois, agradeceu, dizendo que tinha sido uma noite agradável.
Narrador: Outras testemunhas também relataram as perversões sadomasoquistas de Hitler. O relato mais importante foi do desertor nazista, Ernst Hanfstaengl. O Livro de Ouro Nazista de 1934 lista os membros mais importantes do partido. Hanfstaengl aparece como secretário de imprensa internacional de Hitler. Rico, afável e sofisticado, ele encantava a imprensa estrangeira. Mas seu papel principal era o de entreter Hitler.
Egon Hanfstaengl: Seu talento ao piano era muito importante. Muitas vezes, ele ressuscitou Hitler, renovando suas energias com sua música.
Narrador: Hanfstaengl foi confidente político e pessoal de Hitler por mais de uma década. Mas em meados da década de 30, após uma disputa por poder com Goebbels, ele caiu em desgraça. Em 1937, ele fugiu da Alemanha, temendo por sua vida. Hanfstaengl ofereceu seus serviços à inteligência aliada. Acabou escondido numa zona rural remota, aqui em Bush Hill, na Virginia. Os americanos consideravam seu conhecimento sobre o Fuhrer singular. Seu interrogatório recebeu o nome de código “Projeto S”.
Egon Hanfstaengl: As atividades de meu pai no Projeto S podem ser chamadas de “guerra psicológica”. Ele escreveu perfis sobre todas as lideranças do Terceiro Reich, dando aos americanos e aos aliados uma idéia do que essas pessoas poderiam ou seriam capazes de fazer.
Narrador: O Projeto S era considerado tão importante que ficava sob o controle direto do presidente Roosevelt. Na primavera de 1943, o Dr. Langer visitou o esconderijo em Bush Hill, onde conduziu uma longa entrevista com o desertor nazista. Depois, registrou o que Hanfstaengl havia dito.
Walter Langer: Hitler é tímido quando quer conquistar uma mulher. Sua frase favorita é: “Quando for ver uma mulher, jamais esqueça o chicote.” Hitler sempre carregava um chicote. Seu caso mais sério foi com sua sobrinha, Geli Raibal. Presume-se que ele batia nela com seu chicote, entregando-se ao sadismo com enorme prazer.
Narrador: As alegações sobre o relacionamento de Hitler com sua sobrinha, Geri Raibal, tiveram grande destaque na analise final de Langer. E desde a guerra, os historiadores tem lutado para separar os fatos da ficção. Ângela, meia-sobrinha de Hitler, era conhecida com Geli. Era filha da meia-irmã de Adolf e foi criada no pequeno vilarejo montanhês de Palstein, na Áustria. Lá, ela freqüentou a escola com Anna Gruebl.
Anna Gruebl: Geli era simplesmente única. Era meio-loura, tinha um rosto largo e era muito bonita. Também era muito simpática. Muito simpática. Era uma garota maravilhosa.
Narrador: Geli era uma moça forte, a encarnação nazista da mulher ideal. Adorava esportes e a vida ao ar livre e tinha uma paixão pelos lagos perto de seu vilarejo.
Anna Gruebl: Lá, ela tirava a roupa e ia nadar. “Mas Geli, está muito frio!” nós dizíamos, mas ele respondia “Eu não me importo” e atravessava o lago inteiro a nado. Ela era uma ótima nadadora.
Narrador: Em 1928, a mãe de Geli foi trabalhar como governanta de Hitler nas cercanias de Munique. Sua filha de 20 anos foi com ela e matriculou-se como estudante de medicina na Universidade de Munique. A relação entre tio e sobrinha esquentou ainda mais depois que Geli se mudou para a cidade.
Ronald Hayman: Ela era uma moça tranqüila e brincalhona. Podia brincar com Hitler. Poucas pessoas podiam fazer isso sem enfurecê-lo, mas com Geli, ele podia rir. Apesar da diferença de idade de quase 20 anos, eles se davam bem e podiam relaxar na presença do outro. O relacionamento começou assim.
Narrador: Enquanto ficava com o tio, Geli conheceu e se apaixonou pelo motorista dele, Amiel Maurice. Quando Hitler descobriu, fez com que Geli escrevesse uma carta terminando o romance. A Dra. Anna Maria Sigmund viu a carta.
Anna Sigmund: Ela escreveu: “Meu caro Amiel, eu o amo muito, mas meu tio diz que somos jovens demais, que eu devo me dedicar aos estudos e que só podemos nos ver na companhia dele.” E depois, completou: “Imagine isso. Não vou mais poder beijá-lo. O tio A estará sempre conosco.” Depois disso, ela só era vista com o tio. Eles iam para todos os lugares juntos. Freqüentavam o teatro e restaurantes juntos. As pessoas na época achavam que eles eram amantes.
Narrador: Com o incentivo de Hitler, Geli abandonou a medicina para abraçar a carreira de cantora. Em maio de 1943, Walter Langer entrevistou um segundo desertor do alto escalão nazista. Como Hanfstaengl, Otto Strasser caiu em desgraça com o regime e fugiu da Alemanha em 1933. Strasser contou a Langer que, em 1931, a paixão de Hitler por Geli se tornara obsessiva. Ela foi proibida de conhecer outros jovens, e Strasser alegou que Geli havia lhe confidenciado a natureza sombria dos desejos sexuais de Hitler.
Walter Langer: Ela contou para Strasser que Hitler fazia com que ela se despisse e depois deitava no chão. Ela tinha que ficar de cócoras sobre seu rosto para que ele pudesse examiná-la de perto. Isto o deixava muito excitado. No auge da excitação, ele exigia que ela urinasse em cima dele, o que lhe dava um grande prazer sexual.
Narrador: De acordo com Langer, os relatos de outras testemunhas pareciam confirmar as alegações de que o relacionamento de Hitler com Geli não era nada normal. Ernst Hanfstaengl contou a Langer sobre um escândalo que fora encoberto em 1930. Ele teria ouvido a história do tesoureiro do partido nazista.
Walter Langer: Ele tinha acabado de pagar alguém que vinha tentando chantagear Hitler. O homem tinha conseguido pôr as mãos numa coleção de desenhos pornográficos feitos por Hitler, esboços íntimos e depravados de Geli Raibal com detalhes anatômicos.
Narrador: As alegações que Langer registrou sobre as perversões sexuais de Hitler eram chocantes, mas outro testemunho o acusaria de ter matado a única mulher que ele amou.
Narrador: Munique, capital da Baviera. Escondido nos arquivos do estado jaz um libreto, o registro de suicídios de 1931. Naquele ano, 334 cidadãos de Munique se mataram. No suicídio de número 193, consta o nome de Ângela Raibal, sobrinha de Hitler. Geli encontrou a morte no luxuoso apartamento onde ela e Hitler viviam juntos havia dois anos. Na noite de 18 de setembro, depois de uma discussão sobre uma viagem para Viena que Geli pretendia fazer, Hitler partiu de Munique para um comício do partido. Geli entrou no quarto e fechou, trancou a porta e escreveu para uma amiga sobre a viagem.
Geli Raibal: Quando eu chegar em Viena, iremos juntas até Semmering e...
Narrador: A carta de Geni termina no meio da frase.
Narrador: Pela manhã, a empregada não conseguiu acordar Geli. Ela pediu ao marido que arrombasse a porta. O corpo de Geli foi encontrado estirado no chão – a pistola de Hitler no sofá.
Anna Sigmund: O tiro atravessou o pulmão. Ela caiu para frente, quebrou o nariz e sufocou. Foi uma morte horrível, lenta e dolorosa.
Narrador: Ao ser informado, Hitler voltou direto para Munique e fez um relato ao detetive encarregado do caso. O relatório da polícia ainda existe.
Homem com sotaque alemão: Ele disse que teria sido fácil para ela pegar a pistola, pois ela sabia onde ele guardava seus pertences. Sua morte o deixou arrasado, pois ela era a única parente próxima que ele tinha. “Por que isto foi acontecer comigo?”, disse ele.
Anna Sigmund: O tio, que soubera da morte de sua sobrinha havia duas horas, não tinha nada a dizer a não ser “Por que isto foi acontecer comigo?” Naturalmente, ele estava pensando em sua carreira política é o que seus inimigos políticos fariam com o escândalo.
Narrador: Não podia ter acontecido numa hora pior para Hitler. O partido nazista estava à beira do poder. O partido havia se tornado o segundo maior da Baviera, mas estava sob fogo cerrado da imprensa de oposição. Durante o verão de 1931, eles haviam noticiado histórias de má conduta no QG do partido. Escândalos homossexuais dividiam espaço com detalhes sobre prostituição entre a hierarquia nazista. A morte de Geli deu mais munição à imprensa antinazista.
Christian Hartmnan: Naturalmente, os rumores começaram de imediato. Era uma situação extremamente atípica que Hitler e sua sobrinha, que tinha 20 anos a menos, estivessem vivendo juntos. Afinal de contas, ele era o líder de um partido importante. Era tudo muito estranho. As botas, os chicotes, os casacos de couro. O pensamento político de Hitler. E ela teria se suicidado com a arma dele! Bem, você pode imaginar o que diziam os boatos.
Narrador: Logo após a morte de Geli, membros do partido haviam corrido para o local e concordado em fazer uma declaração para a imprensa. O temor de uma apresentação de canto próxima teria levado Geli ao suicídio. Mas apesar dos esforços da máquina de propaganda nazista, a especulação da imprensa corria solta. De acordo com o “Munich Post”, havia evidências claras de crime.
Voz em off: O nariz da falecida estava fraturado, e havia sinais de violência por todo o corpo.
Christian Hartmnan: Havia suspeitas de que Hitler a teria matado numa briga porque ela estava grávida de um estudante judeu.
Narrador: Hitler passou para a ofensiva contra a cobertura da imprensa. Forçou o “Munich Post” a publicar uma retratação de todas as alegações. Restando poucos fatos, os jornais esqueceram a história. Mas os rumores viriam a tona novamente anos mais tarde. Em 1943, durante sua investigação, a testemunha-chave de Langer insistiu que Geli havia sido assassinada.
Walter Langer: Hanfstaengl tem certeza de que Hitler assassinou Geli numa crise de ciúmes porque ela queria sair com outros homens. Ele diz que a fonte dessa informação foi Gregor Strasser, amigo de Hitler, que estava presente quando o corpo foi encontrado. Ele diz também que Strasser seria morto posteriormente por saber a verdade sobre Geli.
Narrador: Na verdade, não existem fatos históricos para ligar a morte de Strasser com a de Geli. Strasser foi morto numa disputa interna entre várias facções nazistas, durante a chamada “Noite dos Punhais Longos”. Todavia, o debate sobre o envolvimento de Hitler na morte de Geli continua até hoje.
Ronald Hayman: É pura adivinhação. Ninguém sabe ao certo, mas creio que ela foi morta com o aval dele, sob ordens dele ou por ele mesmo. Ela tinha que sair de circulação porque ele exigia relações sadomasoquistas com ela que a incomodavam tanto que ela não conseguia deixar se abrir com terceiros. Isto significava que ela era um perigo para o partido nazista.
Anna Sigmund: Os médicos foram categóricos em afirmar que foi suicídio. Só podemos adivinhar o que aconteceu na época, mas ela era infeliz, presa, não podia conhecer gente jovem e não seguiu uma carreira. Ela estava tão desesperada que pôs um fim a sua vida.
Narrador: Incrivelmente, Geli não foi a única amante suicida do Fuhrer. Mimi Reiter, de 18 anos – a primeira amante reconhecida de Hitler – tentou se enforcar em 1927. A atriz Renata Muller se matou pulando da janela de uma clínica em Berlim. E duas outras mulheres íntimas com o Fuhrer tentaram o suicídio. Eva Braun, a amante mais famosa de Hitler, tentou se matar duas vezes na década de 30. As duas tentativas foram abafadas, mas durante sua investigação da personalidade de Hitler, Walter Langer soube dos casos. Ele acreditava que pudessem ser uma chave importante para a personalidade do Fuhrer.
Walter Langer: É importante notar que Eva Braun, sua atual companheira, tentou o suicídio duas vezes. Geli foi assassinada ou cometeu suicídio. É um histórico no mínimo estranho para um homem que teve tão poucos romances.
Narrador: Os filmes caseiros feitos por Eva Braun durante a guerra são uma imagem duradoura de sua relação com Hitler. Ao contrário de seu romance público com Geli, era um relacionamento escondido do mundo. Como integrante da criadagem do Fuhrer, Herbert Doering foi um dos poucos a observar a relação em primeira mão.
Herbert Doering: Pelo que eu observei, Eva Braun não era feliz em sua relação com Hitler. Ela nunca sorria. Era visível. Estava sempre mal-humorada, insatisfeita e indignada. Era uma pessoa resmungona, como dizemos na Baviera.
Narrador: Em seu relatório, Langer escreveu que o romance de Hitler com Eva não era exclusivo, e comentou: “Ele tem visto com freqüência duas atrizes de cinema.” Uma delas era Lennie Reifenstal. Langer ouviu relatos de que Hitler era tão tímido que era ela que tinha que tomar a iniciativa sexual. Mas Reifenstal nega qualquer relação física, dizendo que Hitler não era seu tipo. Quando o Fuhrer oferecia recepções glamourosas, Eva era mantida fora de vista.
Herbert Doering: Atrizes de cinema e teatro, cantores, todos eram convidados para jantar. Ele gostava de se cercar de mulheres bonitas. Apreciava a companhia delas. Mas Eva Braun ficava furiosa. Às vezes, telefonava para os criados, mas nós respondíamos: “Não podemos passá-la para o Fuhrer, senhorita. Ele está com seus convidados.” Ela ficava furiosa, pois ficava só enquanto ele se divertia.
Narrador: Em 1932, Eva Braun fez sua primeira tentativa de suicídio. Pegou a arma do pai e deu um tiro no peito. Hitler a visitou no hospital e conversou com a equipe médica.
Anna Sigmund: Ele perguntou se havia sido uma tentativa séria ou só fingimento. Quando os médicos disseram que tinha sido um esforço sério, ele ficou muito contente.
Narrador: Por um tempo, Hitler foi mais atencioso ... mas não durou.
Eva Braun: Estou mortalmente infeliz de novo. Como não tenho permissão para escrever para ele, este livro será o registro das minhas lamentações.
Narrador: Trechos do diário de um curto período de 1935 ainda existem. Certas passagens sugerem a natureza da relação sexual dos dois.
Eva Braun: Ele precisa de mim para certos propósitos. Não pode ser de outra forma.
Narrador: Ela teria reclamado com uma amiga, dizendo: “Nunca recebi nada dele como homem.” No dia 28 de maio de 1935, Eva tentou novamente o suicídio. O registro no diário é contundente.
Eva Braun: Vou tomar 35 pílulas. Assim, ele vai entender.
Narrador: Ela foi encontrada a tempo. Incapaz de encarar outro escândalo, Hitler a transferiu para um lugar secreto e passou a lhe dar uma mesada. Langer soube que Hitler lhe dava muitos presentes, inclusive carros possantes e uma casa no campo.
Narrador: Walter Langer completou seu relatório no final do verão de 1943. O trabalho havia levado somente 4 meses. Com base nas provas reunidas e sua vasta experiência como psicanalista, Langer conclui que Hitler sofria de ...
Walter Langer: Uma forma extrema de masoquismo na qual o indivíduo consegue a gratificação sexual quando uma mulher urina ou defeca sobre ele.
Narrador: Na perspectiva freudiana de Langer, esta perversão sexual era a causa principal da loucura de Hitler. Sua tese era que isto causava em Hitler um asco intenso de si mesmo, que seu subconsciente transformou em ódio agressivo contra outras nações e raças.
Ned Putzell: Quando completado, formava um extenso volume que foi visto por pouquíssimas pessoas, mas lido com grande interesse pelo presidente dos Estados Unidos e o premier britânico.
Narrador: Churchill achou o relatório fascinante, e Roosevelt parabenizou Walter Langer pessoalmente.
Narrador: Mas agora, o rumo da guerra estava mudando. Rommel tinha sido derrotado no norte da África e o exército alemão havia sofrido uma série de reveses na frente oriental. Os aliados sentiam que uma vitória militar era somente uma questão de tempo. O relatório de Walter Langer se tornara redundante. Sua avaliação psicológica de Adolf Hitler ficou guardada nos arquivos do ESE por 25 anos. Quando foi finalmente divulgada, dois historiadores de renome aceitaram suas conclusões – mas a maioria desconsiderou o veredicto.
Anna Sigmund: Não existem provas históricas de qualquer tipo de perversão. Geralmente, essas histórias eram boatos criados por seus inimigos políticos.
Ronald Hayman: Concordo que devemos suspeitar das pessoas que tinham sido nazistas, desertaram e se ofereceram para ajudar seus interrogadores, que por sua vez queriam corroborar boatos suspeitos, mas dizer que todas essas informações são falsas seria um absurdo.
Anna Sigmund: Sou historiadora e não psicóloga, mas me parece que sua vida particular era bastante normal. Não havia nada de sensacionalista.
Ronald Hayman: Histórias sobre sadismo, masoquismo e práticas sexuais doentias não podem ser completamente falsas, ainda mais quando várias testemunhas contam as mesmas histórias.
Narrador: Verdadeiras ou não, as conclusões de Walter Langer demonstraram uma notável percepção psicológica com respeito a um detalhe. No final de seu relatório, ele avalia como a guerra poderia terminar para o Fuhrer, e sugere uma série de possibilidades. “Hitler poderá morrer de causas naturais. As forças armadas alemãs poderão se rebelar e prendê-lo. Ele poderá ser assassinado ou enlouquecer.” Mas no final da lista, ele faz uma previsão impressionante.
Walter Langer: Hitler poderá cometer suicídio. Este seria o fim mais plausível. Ele já ameaçou se suicidar várias vezes, e pelo que sabemos de sua psicologia, é a possibilidade mais provável. É bem possível, porém, que não seja um suicídio simples, pois é um homem dramático demais para isso, e como a mortalidade é um de seus motivos dominantes, acredito que ele encenará a morte mais dramática que ele puder criar.
Narrador: Walter Langer escreveu essas palavras proféticas quase dois anos antes que Hitler e Eva Braun se matassem num dramático pacto suicida ... enquanto a Alemanha desmoronava em volta deles.
Fonte deste artigo: Tradução original de Nick Magrath
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