quinta-feira, 2 de agosto de 2012

SÍNDROME DE HIPERVENTILAÇÃO (SHV)


O que é síndrome de hiperventilação?

A síndrome de hiperventilação (SHV) é uma das causas mais comuns de falta de ar; muitos pacientes procuram a emergência por SHV, que resulta em ataques de falta de ar.
Uma pessoa normal respira de 6 a10 litros de ar por minuto, o que se chama ventilação. A ventilação é rigorosamente controlada pelo comando respiratório, um marca-passo que fica localizado no tronco cerebral. O objetivo da ventilação é regular o gás carbônico no sangue em níveis estreitos. A SHV, como classicamente definida, implica uma ventilação excessiva com queda do gás carbônico no sangue (CO2), resultando em diversas alterações no organismo, que podem ser reproduzidas pedindo-se ao paciente que respire profunda e rapidamente por 3 a 4 minutos. Nos últimos anos, por medida instantânea do gás carbônico através de sensores colocados na pele, demonstrou-se que, em muitos pacientes, o gás carbônico não cai durante os ataques de falta de ar, ou a queda acontece depois de iniciada a crise. Uma melhor designação para a síndrome seria de dispnéia (falta de ar) psicogênica ou comportamental. O comando da respiração sofre influêcias de diversas regiões superiores do cérebro e certas emoções como ansiedade podem desencadear os sintomas. Por sua vez, o comando respiratório tem sensibilidade variável em diferentes pessoas, o que facilita o desenvolvimento desta condição em pessoas com comando respiratório mais sensível.
Os sintomas da SHV e doença do pânico se sobrepõem consideravelmente, embora as duas condições sejam distintas. Aproximadamente 50% dos pacientes com distúrbio do pânico e 60% dos pacientes com agorafobia (comportamento de evitar lugares ou situações onde o escape seria difícil caso se tenha uma crise de pânico ou algum mal estar ou embaraço), manifestam hiperventilação como parte de seus sintomas, enquanto que apenas 25% dos pacientes com SHV manifestam doença do pânico.
Quais são os sintomas da SHV?
Pacientes com SHV crônica freqüentemente são submetidos a inúmeros exames na tentativa de esclarecimento da causa da falta de ar. Como a dor torácica pode ocorrer, exames para doença coronariana, como teste ergométrico e até angiografia são freqüentes. Pacientes com SHV aguda, que procuram um pronto-socorro, recebem o rótulo de neuróticos e são dispensados com o alerta de que “nada há de errado com seu organismo”, isto é, uma causa orgânica não foi encontrada e, portanto o quadro seria irrelevante do ponto de vista médico.
A doença é mais freqüente em mulheres, numa proporção de 7:1 e ocorre mais freqüentemente entre 15 a 55 anos de idade.
Os sintomas são:
  • Pacientes com SHV aguda podem apresentar agitação e ansiedade intensas.
  • Mais frequentemente, a história é de início súbito de dor torácica, falta de ar, ou sintomas neurológicos - tonturas, fraqueza, formigamentos, ou ameaça de desmaio - após um evento estressante.
  • Pacientes com SHV crônica se apresentam com sintomas semelhantes de dor torácica, falta de ar ou distúrbios neurológicos recorrentes, que se repetem ao longo do tempo.
  • Hiperventilação aguda
    • Os pacientes frequentemente têm sintomas dramáticos, com agitação, hiperventilação, incapacidade de encher os pulmões, respiração rápida, dor torácica, chiado, vertigem, palpitações, câimbras com contratura dos dedos, formigamento em torno da boca e de extremidades, fraqueza generalizada, e desmaio. O quadro às vezes é confundido com crise de asma. A queda do gás carbônico pode resultar em broncoespasmo. A asma, por sua vez, pode se acompanhar de sintomas da SHV.
    • O paciente freqüentemente se queixa de sufocação. Um evento precipitante emocional freqüentemente pode ser identificado.
  • Sintomas cardíacos
    • A dor torácica associada com a SHV usualmente é incaracterística, mas às vezes pode imitar uma angina típica. Ela tende a durar horas ao invés de minutos. É frequentemente aliviada mais do que provocada por exercício. Normalmente não melhora com medicamentos para angina.
    • O diagnóstico de SHV de ser considerado em pacientes jovens sem fatores de risco para doença coronariana, especialmente na presença de outros sintomas da SHV.
    • A SHV pode resultar em alterações no eletrocardiograma que confundem o médico. A SHV é mais freqüente em portadores de prolapso da válvula mitral, e a dor torácica nesta situação pode se dever a hiperventilação.
    • Uma condição séria que pode resultar em falta de ar súbita e alguns sintomas de SHV é a embolia pulmonar, que deve ser afastada na presença de fatores de risco (ver embolia pulmonar).
  • Sistema nervoso central
    • A redução do gás carbônico no sangue causa redução do fluxo sanguíneo para o cérebro. Vertigem, fraqueza, confusão e agitação são comuns.
    • Os pacientes podem relatar sensação de despersonalização (fuga de si mesmo) e podem experimentar alucinações visuais.
    • Raramente, desmaio ou convulsão podem ser provocadas por hiperventilação.
    • Ideações catastróficas (idéias de que coisas muito ruins irão acontecer com o próprio indivíduo) são comuns.
    • Parestesias (formigamentos) ocorrem mais frequentemente nas extremidades superiores e são geralmente bilaterais. Quando unilaterais ocorrem em geral à esquerda.
    • Formigamento em torno da boca é muito comum.
  • Sintomas gastrintestinais
    • Eructações, distensão abdominal e flatos podem resultar da deglutição exagerada de ar
    • Boca seca pode ocorrer com respiração bucal e ansiedade
    • Outras alterações como fasciculações musculares, fraqueza generalizada ocorrem por efeito de distúrbios metabólicos.
  • Hiperventilação crônicaO diagnóstico é mais difícil. Os pacientes se queixam de:
    • Falta de ar
    • Bocejos freqüentes
    • Dor torácica
    • Suspiros freqüentes, com sensação de respiração insatisfatória
    • Muitos pacientes sofrem de distúrbio obsessivo-compulsivo, dificuldades sexuais e conjugais, e pobre adaptação ao stress

O que causa a SHV?
A causa é desconhecida, mas as pessoas afetadas parecem ter uma resposta anormal ao stress e outros fatores desencadeantes. Sob stress, os pacientes com SHV passam a respirar muito mais com o tórax do que com o diafragma, resultando numa distensão exagerada da caixa torácica superior. Este padrão de respiração leva à falta de ar porque respirar distendendo a parte superior do tórax é muito mais difícil. Receptores situados nos pulmões e na caixa torácica disparam mensagens de “alarme de sufocação” para o cérebro. Diversos transmissores são liberados pelo organismo levando a palpitações, tremor, ansiedade e suor excessivo.
Como é feito o tratamento?
Na SHV aguda, a procura do Pronto-Socorro é recomendada, para que condições mais graves como enfarte, embolia pulmonar e pneumotórax sejam excluídas.
Respirar em um saco de papel, para impedir queda do gás carbônico, não é recomendado, podendo causar queda importante do oxigênio no sangue e mesmo morte. É ineficaz.
Uma explicação a respeito dos sintomas deve ser feita para o paciente.
A provocação dos sintomas por hiperventilação voluntária por 3-4 minutos frequentemente convence o paciente do diagnóstico, mas o teste pode ser negativo.
O paciente deve ser instruído para praticar respiração abdominal, usando o diafragma mais do que a parede torácica, o que melhora a falta de ar e os sintomas associados. A respiração diafragmática reduz a freqüência respiratória (figura), distrai o paciente durante as crises, e dá ao paciente uma sensação de autocontrole durante os episódios. Esta técnica é eficaz em muitos pacientes. O paciente deve procurar um profissional (ex. fisioterapeuta), que reforce a respiração diafragmática ou praticar Yoga que reforça o relaxamento e a respiração diafragmática.
Os usos de ansiolíticos podem trazer alívio para o stress, mas o uso prolongado deve ser feito com cuidado. Diversos estudos mostraram sua ineficácia na SHV.
Terapia para redução do stress, beta-bloqueadores, antidepressivos (quando há síndrome do pânico associada são essenciais) e retreinamento respiratório pode reduzir os sintomas e a freqüência das crises. Consulta com psicólogo ou psiquiatra é recomendada.

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