domingo, 18 de março de 2012

Bonde da vida

Godofredo estava novamente parado na velha esquina a esperar os amigos que todos os dias entravam no bonde da vida para seguirem suas rotinas.
O primeiro a chegar foi Leonardo, que logo cumprimentou o colega:
— Bom dia, Godô! Tudo bem?
Automático como um robô, Godofredo respondeu, como sempre:
— Mais ou menos... a vida não engrena, Léo. Sabe como são as coisas, a conta de energia aumentou 20%...
Leonardo avistou seu transporte e, como era praxe, chamou o amigo:
— Vamos, Godô, vamos embarcar no bonde da oportunidade. Quem sabe a assim a vida engrena.
Godô nada respondeu, apenas balançou a cabeça despedindo-se do amigo.
E lá se foi Leonardo no bonde da oportunidade.
Em 5 minutos chegou Carlos, que também cumprimentou o colega:
— Bom dia, Godô, como vai essa força?
Godô novamente desfilou suas reclamações:
— Força? Vai fraca, meu amigo. Sabe como é... vida difícil, situação complicada, aquele marasmo de sempre. A força vai fraca!
Logo parou o bonde da felicidade. Carlos perguntou a Godô:
— Vamos nessa, Godô?
— Não, fico por aqui.
Em 10 minutos surgiu Aloísio, que alegre, cumprimentou o colega:
E ai, Godô, tudo beleza?
Desanimado como de costume, Godô respondeu:
— Beleza nada. Tudo feiúra. Veja que minha vida resume-se a ficar nesta esquina.
— Saia dela — disse o amigo.
— E vou para onde? Melhor ficar, pelo menos não preciso me esforçar para achar outra esquina.
— Você quem sabe, Godô. Olha, está chegando o bonde do trabalho. Vamos nele?
— Vai você, eu fico por aqui.
E assim foram 30 anos, Godô a reclamar na velha esquina e os bondes da vida passando por ele. Certo dia, porém, inelutavelmente nosso caro Godô teve que embarcar no bonde da morte. Foi o único bonde que Godô tomou em toda sua existência, já que nada queria com os bondes da vida, restou-lhe apenas o inexorável bonde da morte.
A vida é uma estação onde passam diversos bondes: oportunidade, felicidade, trabalho...
Há pessoas que não embarcam em nenhum, preferem reclamar, blasfemar e fechar os olhos para o próprio progresso.
Fazem da reclamação um hábito, acoplando-a ao comportamento. Não percebem que o tempo voa enquanto ficam paradas nas esquinas da vida a aguardar que o destino melhore a existência.
A propósito, tenho uma amiga que parece ser irmã de Godô. Reclama de tudo e todos. O pão está quente, ela não gosta. O sinal pintou-se de vermelho, ela bate as mãos no volante. À semelhança de Godô, vive na esquina da reclamação e fez dela um hábito que, diga-se de passagem, nada tem de saudável.
E na questão do hábito, importante ressaltar notável filósofo do século XIX, Hypollite Leon Denizard Rivail, que certa vez afirmou: “A educação moral consiste na arte de formar o caráter, que dá os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”.
Impossível discordar dele. Viver é uma arte que requer semeadura de bons hábitos. Pessoas educadas alimentam hábitos saudáveis. Logo, forçoso admitir que pessoas educadas não passam pela vida a reclamar de tudo e todos, antes, elas preferem deixar de lado as lamúrias para embarcar nos bondes que a vida oferece todos os dias: oportunidade, felicidade e trabalho são alguns.
Pensemos nisso.
Wellington Balbo (Bauru – SP)
Wellington Balbo é professor universitário, escritor e palestrante espírita, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática. É autor do livro "Lições da História Humana", síntese biográfica de vultos da História, à luz do pensamento espírita, e dirigente espírita no Centro Espírita Joana D´Arc, em Bauru.
wellington_plasvipel@terra.com.br
Blog: http://wellingtonbalbo.blogspot.com/

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