sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Reencarnação de suicidas


O processo reencarnatório é sempre complexo e fruto de minucioso planejamento. Ao tomarmos conhecimento do nascimento de um novo habitante da superfície terrestre devemos ter a consciência do enorme esforç o engendrado não só no plano material, mas também no invisível, para que esse “milagre” seja uma realidade.
As crianças nos demonstram concretamente a confiança de Deus nos seres humanos. Elas são a prova da misericórdia Divina que nos resgata incansavelmente das trevas e suplícios em que nos afogamos repetida e propositadamente.
E, essa mesma misericórdia é a fonte que nos ilumina com a luz morna do dia, que nos invade os olhos infantis curiosos, quando os abrimos pela primeira vez no mundo físico.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte,não temeria mal algum, porque tu estás comigo;a tua vara e o teu cajado me consolam.
Salmos 23:4
Apesar de um longo e penoso trânsito pela erraticidade os espíritos vítimas de si mesmos, geralmente, não têm condições de presidir a construção de um corpo físico saudável durante seu processo reencarnatório.
A disposição integral dos recursos intelectuais e físicos, amealhados preteritamente por aqueles filhos de Deus, pode ser necessária ao completo êxito de sua missão terrena. Por isso, a espiritualidade responsável por esses pacientes se empenha no tratamento das suas mazelas, através da medicina astral, mesmo quando são frutos da imprudência e do orgulho.
Assim, eles poderão chegar um pouco melhores à terra, e então, terão, por sua vez, a magnífica oportunidade de retribuir ao Criador tamanha benção, colaborando com seus contemporâneos em seu progresso como cidadãos.
Uma das causas mais freqüentes de debilidade e deformidade do corpo espiritual é a desagregação energética induzida pelo auto-extermínio. As lesões do corpo espiritual são ainda mais severas do que aquelas que desvitalizaram o corpo físico. Não atingem apenas o sistema mental do desencarnado, toda a complexa estrutura perispiritual é comprometida.
Sua delica da tessitura é impregnada pelas energias deletérias que causaram, primariamente, o auto-extermínio e por aquelas que se originaram dele. Os componentes unitários do tormento com que se deparam os suicidas são: Dores intensas, de teor moral e físico, acrescidas do desespero de se encontrar vivo após a morte, revolvidas com o cimento da culpa.
Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores;ali haverá pranto e ranger de dentes.
Mateus 25:30
E sentindo-se servos inúteis reconhecem a justiça de seu tormento imediatamente após o desenlace traumático do corpo físico. Entretanto, a falta de equilíbrio que os caracterizou em vida, os persegue no além túmulo. Crises subintrantes de arrependimento e desespero se sucedem, como se fossem continuar indefinidamente.
Não dispõem de recursos íntimos para atenuarem esse estado de dentro para fora. A prece é impronunciável para eles, sem que entendam o porquê dessa afasia seletiva. É, na realidade, a autopunição que se segue à culpa demolidora.
Querem, e cultivam a dor por ilusão da purificação. Assim o fizeram por milênios e, assim, se conduzem quase que reflexamente.
Interromper esse processo depende de uma fagulha de esperança em seus corações petrificados. Fagulha insignificante, mas perceptível aos benfeitores do além, que nesse momento crítico, de olhar hesitante e frágil voltado para os céus, os acodem e recolhem às instituições caridosas do invisível.
Esse é apenas o primeiro passo em direção á reencarnação libertadora e reconstrutora. Muitos serão necessários.
Os abnegados servidores do cristo que os acolheram, oferecem a eles os medicamentos espirituais mais avançados. Todos eles repletos de um principio ativo que se habituaram a negligenciar em suas numerosas existências físicas pregressas.
É o amor temperado com energias de diferentes ordens, mas também sublimes e retificadoras em sua essência.
Os amigos encarnados atuam expressivamente nesse processo, fornecendo a matéria mais densa para que os cirurgiões do espaço refaçam a delicada anatomia do corpo astral desses pobres desvalidos.
Suturas, drenagens, condutoplastias, inúmeros procedimentos são executados para a melhor recuperação possível de pacientes tão especiais.
Uma vez que se encontrem anatomicamente recuperados (relativamente) serão guiados aos estudos. Não é um processo rápido. A formação de que necessitam é longa, didática e transformadora.
Nas aterradoras crises de confiança são restabelecidos pela doação de energia salutar dos seus colegas em melhores condições.
Começam a se doar uns aos outros, aos próximos bem próximos. Em um momento socorrem e no seguinte são socorridos. Estão ainda em uma montanha russa íntima. No seu ápice acumulam forças para enfrentarem os vales.
Aos poucos estudam suas existências anteriores e os motivos que os levaram ao desespero. Isso é oferecido a eles de uma forma tal que possam se distanciar o suficiente para que entendam e relembrem da dor, sem serem cegados e confundidos por ela.
Com esse método podem identificar mecanismos de defesa impróprios e padrões de comportamento com tendência à recorrência.
Quando conseguem elaborar, ou melhor, metabolizar seu passado são transferidos às escolas gerais. Necessitam do convívio com todos os outros espíritos. Nesta fase já podem ajudar necessitados de outros matizes.
Trabalham em funções diversas, sempre iniciando pelas mais
simples. São felizes por terem a oportunidade de realizar pequenas obras. Não são cobrados para erigirem grandes monumentos, pois para muitos deles o orgulho e o poder foram a passarela condutora à derrocada.
Décadas eles despendem nessas escolas, e o tempo todo, são ajudados, escorados, impulsionados pelo amor dos benfeitores espirituais. Muitos são pais, mães, filhos de outras épocas.
A maioria, entretanto, são os seus inimigos do passado, já refeitos dos vícios morais mais limitantes, que hoje agradecem a possibilidade de resgatarem seus débitos cármicos no trabalho junto aos, transitoriamente, mais frágeis.
Ao mesmo tempo em que se recuperam auxiliam no progresso de seus educadores.
O treinamento prossegue, posteriormente, em frentes de trabalho mais densas e perigosas, verdadeiros testes de fidelidade em relação aos exércitos do Cristo. Aprendem a amar o diferente, o ignorante e o demente. Vêem nestes irmãos o reflexo de seu passado recente.
A última fase preparatória para a reencarnação dos antigos suicidas é a elaboração do projeto reencarnatório. Por mais que tenham obtido algum grau de recuperação da anatomia de seu corpo espiritual, as lesões que a essa estrutura foram impostas pela auto-agressão ainda serão máculas indeléveis no plano espiritual.
Mesmo que sejam imperceptíveis aos olhos dos próprios portadores elas carrearão, necessariamente, ao corpo físico as mensagens de alerta de um passado que não deve ser revivido.
Serão limitações congênitas de graus variáveis, doenças crônicas severas com crises intermitentes e curtos períodos de acalmia. Insuficiências orgânicas diversas e possivelmente múltiplas.
Essas doenças graves os açoitarão, na vida física, relembrando-os dos compromissos assumidos e, também, cumprindo o papel de verdadeiros exaustores biológicos na drenagem das energias perniciosas e densas de uma qualidade tal que apenas podem ser expurgadas no trânsito pela matéria.
O amor vivido em sua plenitude os livrará das dores inúteis. Aquelas necessárias foram discutidas durante a sua preparação pré-encarnatória e devem ser vividas resignadamente, mesmo quando extremamente dolorosas. A luta pela vida é o exercício diário necessário para que desenvolvam os meios de evitarem novas quedas.
Os amigos espirituais os acompanharão em toda a sua existência física, oferecerão o suporte e consolo diante das suas fraquezas. E a cada obstáculo que venham a superar, mais fortes se encontrarão.
Não mais suicidas serão, mas, ex-suicidas, dispostos ao trabalho retificador em prol do seu próprio progresso. Serão, também, luzes nos rodapés dos longos e tortuosos corredores da existência infeliz de seus semelhantes, daqueles ainda cegos à luz redentora do Cristo.
Texto de - Dra Giselle Fachetti
Trecho de matéria publicada na edição 55 da Revista Cristã de Espiritismo

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