quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

“O DHARMA DAS MUDANÇAS DE VIDA”

Por Phillip Moffitt
Ao considerar uma mudança, uma perspectiva budista pode ajudar a desvendar suas reais motivações para que você possa realizar as mudanças certas nos momentos certos e nos jeitos certos.Na época do Ano Novo, a maioria das pessoas busca fazer alguns tipos de mudanças em suas vidas. Algumas vezes essas reavaliações são apenas devaneios ou imaginação banal, mas outras vezes são sua voz interior falando e nossa atenção é necessária. Como você pode honrar e trabalhar com esse desejo que nasce naturalmente de fazer mudanças nesta época do ano? Para fazer isso, você deve primeiro saber que o clamor por mudanças pode ser algo maior do que eu seu sentido normal de si mesmo e por isso pode estar surgindo de impulsos que você não entende completamente. Ainda assim, você deve encontrar uma maneira de participar consciente e habilmente para permitir que o novo surja.Os ensinamentos do Buda podem nos ajudar a explorar os sentimentos que aparecem dentro de você e a entender porque você quer alterar alguns aspectos da sua vida. Pense nisso como “o dharma das mudanças de vida”, a prática de trazer consciência para os desejos e impulsos que o levam a realizar grandes mudanças de vida. A atenção plena é um método para trabalhar consciente e habilmente com as complexidades de se movimentar para novas direções na vida. Aplicando a atenção diligentemente lhe permite responder a três perguntas básicas: Quais são seus reais motivos? Quais são os possíveis efeitos da sua mudança? A maneira que você planeja a mudança é habilidosa?Abrir-se para a possibilidade da mudança é saudável, porque assim como as plantas, as velhas partes de você mesmo tem que cair e pousar no chão ou morrrer para que o que deseja surgir possa ser. Quando um impulso de mudar nasce, a primeira pergunta que você deve ser fazer é sempre: Qual é seu motivo? É saudável? O Buda ensinou que muitos dos impulsos que você sente para fazer mudanças dramáticas ou mesmo pequenas na sua vida vem da aversão, cobiça e particularmente ilusão.Um exemplo simples é a perda de peso, algo que muitas pessoas pensam nessa época do ano, só que raramente conseguem realizar habilmente. Para muitos, a perda de peso é um objetivo valioso porque promove boa saúde e bons movimentos corporais. Mas essas razões de saúde raramente são as motivações por trás dos regimes, que tendem a ser na verdade vaidade e desejo de aceitação social. Por isso, o esforço colocado na perda de peso está na verdade reforçando os próprios anseios que estão desequilibrando seu peso corporal em primeiro lugar. Planejar as coisas por motivos insalubres não irão lhe ajudar a entrar numa relação mais saudável consigo mesmo e raramente unificam seus esforços para a mudança, e então você falhar em sustentar sua intenção e nunca alcança seu objetivo.A mesma perspectiva se aplica às maiores mudanças de vida, como abandonar sua carreira ou terminar um casamento. Se você não gosta como está se comportando no trabalho ou no casamento, encontrar uma nova situação não lhe ajudará muito se seu desejo de escapar está surgindo da aversão ao seu crescimento interior. Por outro lado, se você está num ambiente ruim ou está sendo alvo de comportamento humilhante, sentir um impulso de sair, mesmo que haja muito conflito e ruptura, é uma motivação saudável. Então o mesmo desejo de mudança ou objetivo pode ser saudável ou insalubre, dependendo da motivação; por isso, investir um tempo para explorar honestamente suas motivações é fundamental antes de ir para as ações. Devemos sempre abordar grandes mudanças de vida com cuidado e respeito, porque suas consequências vão muito longe, e muitas vezes criam muitas outras mudanças que não vemos.Depois de conhecer sua motivação para mudar, as próximas perguntas são: Quais serão os resultados se você for bem-sucedido ao realizar a mudança? Como ela vai afetar sua vida e a vida daqueles ao seu redor? Ela irá lhe servir e, ao menos, não machucar os outros? Qualquer mudança que não gere compaixão e amor pra você mesmo e para os outros é uma perda de preciosa energia de vida. Parece tão óbvio, mas aplicar este simples filtro ético faz uma diferença em quão apaixonadamente nos movemos para promover as mudanças.Antes de se decidir a fazer uma grande mudança de vida, você também pode querer se perguntar se ela é realmente necessária. Sua vontade pelo novo é uma maneira de evitar algum trabalho interior no desabrochar da sua própria maturidade como ser humano? Você está tentando evitar uma necessária entrega egóica de sua mente desejante? O que você pensa que precisa para ser feliz não é uma velha idéia que cresceu além da conta ou que simplesmente é irreal desde o início? Ao invés de querer mais de algo – dinheiro e atenção, por exemplo – talvez fosse melhor você praticar um certo desapego por querer que a vida seja sempre de um certo jeito. Cada pessoa tem que viver esse processo de agonia e dúvida de si mesmo como parte de uma grande mudança.A terceira pergunta está relacionada com seu plano de ação: Que meios você deveria usar para finalizar o velho e adquirir o novo? Se os métodos de realizar a mudança são nocivos, então você está trabalhando entre propósitos cruzados desde o começo, mesmo se o motivo e a mudança são benignos. Muito frequentemente as pessoas entram em pânico próximo a mudanças e agem de uma maneira não habilidosa, machucando a si mesmas e aos outros como resultado.Estas difíceis perguntas são mais vívidas quando perguntadas no contexto da alma e permitem aparecer um sentido mais profundo de significado. Certamente tentar colocar a vida do jeito que somente você quer não funciona. Olhando pra minha própria vida, algumas vezes parecia que importava menos se eu fazia ou não a mudança do que eu parar e realizar um processo de auto-exame. De alguma forma estava vindo para meu espectro completo de sensações aquilo que era o passo mais importante para a continuação da vitalidade em minha vida. Desnecessário dizer que quando falhei em fazer esse processo de autenticidade, paguei as consequências.Não é que tenhamos que ser perfeitos ao fazer as mudanças de vida, estar livres de motivos confusos ou nunca tomar decisões pobres ou sermos inconsistentes em nosso comportamento. Quem é tão perfeito? Claro que vamos fazer todas essas coisas. A prática é ser consciente das nossas intenções e do nosso comportamento real para que possamos fazer ajustes quando nos tocamos que estamos fora da rota.Geralmente, não são as dificuldades da vida que causam a maior parte do sofrimento, mas a falta de conexão consigo mesmo, com os outros e com a vida como um todo. A separação de nosso entusiasmo natural amortecem ou matam sua alma. Por isso, a questão ao contemplar a mudança é sempre: Você está indo mais inteiramente para a sua essência, para quem você mais autenticamente é?Uma vez que você tenha se decidido por uma grande mudança de vida, esteja preparado para incluir a escuridão como parte da sua mudança. Assim como a Terra usa pouca luz no inverno para renovação,sua psiqué pode bem precisar ir para uma escuridão interna ao se mover para mudanças. Na escuridão que tem sido ignorada ou negada – sejam sensações inquietantes, eventos difíceis do passado e do presente, ou ambivalência em relação a você mesmo – será dado tempo para decair e ser renovada. Esta pequena morte da psiqué espalha sua definitiva morte física. Experimentar este tipo de morte psíquica é uma parte vital de estar vivo. É uma tarefa terrível de se entregar à morte antes de renascer, o que explica porque culturas tribais tem rituais para ajudar a enfrentar a ansiedade de ver os dias ficando mais curtos e confiar que uma nova primaverá virá. Esta preocupação era tão grande em algumas culturas que eles faziam rituais para o por do sol todo dia para assegurar que ele voltasse na próxima manhã.Não pense que você é muito diferente na vida moderna. Permita-se algum ritual em torno da sua mudança. Faça dela um ato sagrado. Crie lembretes do que você está fazendo e símbolos que sejam visíveis para você. Use livros como inspiração. Tenha amigos e profissionais como testemunhas e grupo de apoio. Evite julgar a si mesmo em termos de ser bem ou mal sucedido na mudança, e nunca se coloque na posição de dar aos outros o poder de julgá-lo nesses termos. Deixe o ato de estar mudando ser a recompensa e não conte com o resultado, porque pode ser bem diferente de qualquer coisa que você tenha imaginado. Todos esses passos representam uma honra a você mesmo, uma entrega do seu ego, que pensa que deve estar no comando. Eles também honram o mistério da vida, porque ninguém sabe todas as consequências de uma ação. Conforme você reflete e toma decisões sobre seu futuro, nunca se esqueça que aquele você que embarca em qualquer mudança de vida não será a pessoa que colhe os benefícios e alegrias quando o processo está completo. Também não é você quem tomou decisões no passado. Você está conectado apenas pela memória, pelas consequências de causa e efeito, e pelo grau pelo qual você abraça a vida pela responsabilidade de suas intenções. Você está apenas aqui agora, neste momento. Esteja vivo neste momento. É tudo que você tem, o único tempo em que pensamento e ação pode acorrer para o seu benefício e para os de quem você ama.

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