sábado, 10 de setembro de 2011

...mexa-se - Calunga - Livro Tudo Pelo Melhor - Capítulo 10

Que satisfação a gente pegar uma coisa que está suja e limpar. Que prazer a limpeza! Pegar uma coisa desorganizada e a gente vai ajeitando, ajeitando e quando vê está tudo bem, tudo organizado, tudo certinho no lugar. Como é bom as coisas no lugar certo. Tudo tem lugar certo, tudo tem hora. Esse povo bagunçado que está aí também tem bagunça na cabeça, porque gosta de tudo bagunçado, relaxado, de qualquer jeito. E cada vez mais, nesse relaxamento, vai criando confusão, barulho, problema e desperdiçando a energia da vida, que é tão importante.
A paz depende de você conquistar o equilíbrio. E o equilíbrio depende de você conquistar a ordem. Organizar sua vida, as coisas, os objetos, os trabalhos, os horários para as coisas, não querendo demais, organizando com uma certa folga, com capricho para você fluir com equilíbrio na vida.
É preciso não deixar as gavetas abertas depois de tirar o que você queria. Abre, usa e fecha para que haja ordem. Na vida interior, parece a mesma coisa. A gente começa uma coisa e, antes de ir para outra, acaba aquela. Acaba as coisas do passado que já passaram. Não deixa o ressentimento daquilo que não deu certo continuar com essa gaveta aberta. Passou, passou. Acabou, acabou. Não deu certo, não deu. Vamos começar de novo. Mas vamos fechar a gaveta primeiro para abrir outra.
Não adianta a gente querer ir para uma vida nova, uma função nova, uma tentativa nova, se a outra não está ainda acabada. Quanta coisa inacabada que vocês têm. Precisa acabar as velhas coisas, aquela situação ruim que você deu uma bola fora. Você errou e todo mundo riu. Você ainda está guardando aquilo, em vez de dizer:
- Bom, riu, riu. Já foi, já foi. Acabou, acabou. Não vou guardar isso. Vou fechar a gaveta para abrir uma outra. Hoje é um novo momento, quero que seja uma gaveta nova. A gaveta foi, foi. Passou, passou. Eu não quero mais nem saber.
A gente precisa ter ordem mental. Você assistiu a um programa de televisão que a impressionou. Ora, desligou a televisão, você vai desligar as impressões:
- Não quero mais essas impressões, esses pensamentos. Acabou, acabou. Não quero mais ver, não quero mais pensar.
Ou você pensa o que quiser pensar e depois diz:
- Bom, agora chega de pensar nisso, porque não vale a pena e também não tem mais nada de bom para tirar. Então, acabou. O que tirei, tirei. Acabou, acabou. Já que acabou, fechei a gaveta e vou para outra coisa agora. Quero dormir com as gavetas todas fechadas, tudo acabadinho, tudo em ordem para ter um sono tranqüilo, gostoso, reparador.
Mas vocês não fecham. Fica tudo aberto. Vão deitar e não têm sono reparador coisa nenhuma. Acordam já de manhã poluídos, cansados e metem mais uma porção de coisa inacabada. Fica aquela confusão de coisa daqui, de coisa dali, de conversa daqui, de conversa dali, de tudo o que você passou e o que você sentiu. Tudo naquela confusão. Isso vai dando um cansaço, minha gente, mas um cansaço, que é uma coisa. Um desgaste!
A gente precisa de ordem mental. A mente precisa de ordem, mas vai entulhando tudo em sua casa, entulhando, entulhando, e larga as gavetas abertas. Como vai ficar sua casa daqui a pouco: aquela bagunça, desordem, junta sujeira, junta bicho, quebra as coisas, estraga. E se perdem as coisas boas, não aproveita e vive naquele ambiente tumultuado, cheio de energia pesada e aquela vida que vai ficando cada dia pior.
Como na casa, no mundo interior é a mesma coisa. Uma empresa, para ir para a frente, ela se organiza, ela põe as coisas no lugar, as funções de cada um, põe uma ordem. Quanto mais ordem tiver e se a ordem for bem inteligente, bem aprimorada, então o fluxo da empresa é fácil, o trabalho fica fácil, a empresa produz, os empregados podem então reivindicar seu aumento, melhorando sua qualidade de vida e seu salário. As coisas vão para a frente e todo mundo ganha. Mas se é aquele chefe, aquele dono que larga, que negligencia os impostos, que negligencia suas papeladas, que deixa os empregados fazer o que querem, e um numa coisa, outro noutra, vira uma confusão, que não produz, que não tem dinheiro, que os empregados vão embora, vão dar parte de você no Ministério da Justiça e aquela confusão, aquele atravanco. Quando você se dá conta, perdeu o seu negócio. Então, o sucesso de um comércio, de uma empresa, de uma oficina depende da organização, que você chama de administração, gerenciamento, não é verdade?
Na escola é a mesma coisa. A professora tem que ensinar tudo na hora, porque se ela ensinar tudo de qualquer jeito, uma coisa assim, outra depois, a criança não aprende, não. Fica na confusão. Ela tem que ir cada pouco numa coisa, em ordem crescente de dificuldade. Se não tiver ordem, a criança não pode aprender e ela não vai conseguir ensinar. Tem que gerenciar a educação, as informações para ir, aos poucos e da maneira adequada, fornecendo os elementos para a criança se desenvolver no raciocínio e na inteligência. Por isso que a professora boa é organizada. Tudo tem ordem, tudo tem sua hora, tudo é direitinho. Ela tem a letra muito bem-feita para a criança copiar direito. Ela fala tudo clarinho, fala bem o português, bem organizado o pensamento, as matérias que vai dar, os cadernos todos encapados. Assim fica aquele ambiente gostoso na sala, as crianças não ficam ansiosas, perdidas e tudo vai indo que é uma beleza. A classe avança.
Se isso tudo é tão importante para a gente fazer as coisas direito e chegar aonde quer, por que a gente não faz na cabeça? Me conte. Se na cabeça o mais importante é a gente botar ordem. Ah, meu Deus do céu, botar ordem por dentro para ter paz, para ter equilíbrio, para chegar facinho aonde se quer. É o pensamento que tem que ter ordem, são as emoções que têm que ter ordem. Não tem ordem, tem confusão e se paga caro por isso. Se você não quer passar pela ordem, pela disciplina, você vai ficar no escracho. Sua vida vai ser escrachada, sua vida emocional uma confusão, sua vida mental um problema, porque você já não sabe mais o que pensar, não sabe nem por onde começar. Vai dar o desespero, porque desespero é bagunça interior. Não me venha com essa coisa de que você não tem culpa:
- Ah, coitada de mim, estou desesperada!
- Olhe, vou dizer para você: nem escuto.
O quê? Essa bagunceira, revoltada, relaxada com ela? Vou ficar eu aqui ouvindo esse miado de gato no meu ouvido? Vou, não! Uai, por que eu vou? Já sei que é uma bagunceira. Não vou cair nessa arapuca. Vou chegar para ela e conversar:
- Olhe, minha filha, você está desesperada porque é uma relaxada com você. Se ela se zangar comigo e não quiser me ouvir, paciência! Uai, quem vai sofrer é ela. Eu ainda estou dando para ela a verdade. - O que você fez com o seu tempo? Ficou fazendo o quê? Educou você? Botou ordem? Tratou de você? - Não, eu estava cuidando de filho, de marido, de não sei quem, sei o que lá mais. - Olha, minha filha, você é tontona. Não faz o trabalho que precisa fazer com você, depois paga o preço. Agora, quer que eu faça o quê? Bote ordem na sua cabeça? Como um defunto pode botar ordem na sua cabeça? Milagre? Uai, ainda não sou Deus para fazer milagre. Se fosse detentor de todo poder, pode ser que eu pudesse fazer. Mas acho que se nem Deus está fazendo é porque Ele também não pode, pode não, porque Deus faz tudo o que pode pela gente. É a lei do amor. Ele vive na lei do amor. Se Ele não fez é porque não pode. Se Ele lhe deu o poder de fazer e você não fez, Deus não vai se meter, não. O que é Dele, Ele faz. Agora o poder é seu. Você põe ordem ou desordem. O que você quer pôr na cabeça? Põe desordem, preguiça, resistência. Não é cooperativa com sua natureza. A natureza que não se cuida morre que nem planta. As plantações, se não cuidar, não dão nada. Chega na época da colheita, não deu nada. Olhe, minha filha, você que está aí nesse desespero, vamos ficar quieta, parar com esse escândalo todo e considerar:
- Uai, estou aqui nessa vida confusa, tudo perdido, porque eu também não pus ordem em nada. Quanta porcaria que eu já deveria jogar fora e não joguei. Quanta coisa que eu deveria limpar em mim. Toda semana tenho que fazer um bom trabalho de limpeza comigo: o que vai ficar, o que não vai ficar, as gavetas e os armários que eu tenho que fechar, as coisas que eu passei, mas que acabou, acabou. Não quero ficar com essa impressão, não é verdade? Procurar ver o que quero abrir, onde vou pôr meu pensamento, minha intenção, o que vou fazer com esse sentimento, como vou acreditar na vida, onde vou pôr minha fé, os exercícios interiores, as leituras sadias, as coisas que vou escolher para criar para mim um sistema bem organizado, bem forte para enfrentar meu dia-a-dia. Hein, companheiro, me conte.
- Eu estou com problema ...
- Você só sabe ficar com problema. Que problema, meu filho? A vida não tem problema nenhum. A sua cabeça que é problemática, confusa, vê tudo difícil, vê tudo ne-gativo. Que besteira esse negócio de ver tudo negativo! Por que você não corrige isso? Corrija tudo isso. Quando começar a ver tudo negativo, diga:
- Pára! Devo estar vendo tudo torcido. A vida é boa. Ah, não vou ficar vendo as coisas pelo lado pior, não! Vou ficar pelo menos quieto. Se não sei ver pelo lado bom, se tenho medo de me iludir, pelo menos o negativo não vou, não. Prefiro não pensar nada e deixar a situação ir se mostrando para ver o que vou fazer a ficar pensando besteira, seja ilusão do certo ou do errado. Não quero pensar nada.
Assim, vai dando uma calma. Não precisa adivinhar as coisas. Vocês adivinham, em vez de ver as coisas como são mesmo. Parece que todo mundo tem bolinha de cristal. Em vez de ver de verdade, querem todos imaginar. Uai, a cabeça que imagina demais acaba toda enlouquecida. Imaginação é boa do jeito certo, na hora certa, porque senão, meu filho, é uma faca de dois gumes. Cuidado! Administre melhor essa imaginação. Administre melhor suas escolhas, companheiro. Você é livre para escolher, mas vê lá o que você está escolhendo. Olhe bem claro. Muita calma, que você é delicado. Você é um ser humano, um aparelho complexo e delicado. Vá com jeito, vê lá, porque quem escreve o seu destino é você.
Você também precisa pôr na prática as coisas que já sabe. Precisa tirar essa hipnose que você entrou de fazer as coisas sempre iguais. Precisa arrancar, dizer: "Não! Agora as coisas são assim", com firmeza, para você caminhar para a frente, para poder digerir e usar o que aprendeu de melhor. Precisa de cuidado, insistência, atenção, ordem, disciplina. Força com você, no bom sentido. Vê lá se não vai se machucar.
Ginástica, a gente tem que tomar cuidado para não fazer demais e arrebentar a gente. Tem que ser tudo direitinho, na hora certa. Com disciplina, você vai crescendo os exercícios, os músculos vão melhorando e vai ficando cada vez mais hábil. Mas tudo tem um caminho, uma disciplina. Se você não aceita a disciplina, se está na ilusão de que ser livre é ser anárquico:
- Ah, porque só faço o que eu quero e se estou com vontade, Calunga.
- Tá bom, minha filha. Mas não queira o que você não planta. Não me venha com a choradeira depois dizendo que não tem. Porque quem quer precisa plantar e quem planta precisa cuidar, senão os bichos comem. Precisa prestar atenção na planta todo dia para ver se ela está indo bem. Precisa de água, de adubo, de sol. Precisa dar uma olhadinha, uma namoradinha todo dia, que ela vai. Sem namoro não vai nada, não, hein, filha. Não estou falando para forçar você, estou falando para namorar. É a persistência, é o carinho, é o cuidado. Cuidado é disciplina. Água precisa, dia sim, dia não, dia sim, dia não. Tem que entrar na disciplina. Se puser dois dias em seguida, ela pega água demais e pode fazer mal para ela. Se pular um dia a mais e ficar três dias sem água, ela pode começar a ter problema. É dia sim, dia não. Depende da receita e depende da planta. Toda planta tem que ter uma disciplina para ficar bem, no melhor dela.
Ginástica também, minha gente. Tem que ser todo dia um pouquinho, senão não dá resultado. Então, a gente vai e faz um pouquinho e no dia seguinte mais um pouquinho. É todo dia, é cinco vezes por semana. Quando puder e quiser um propósito maior, tem que apertar essas horas. Tem que apertar o tempo, tem que apertar o número de exercícios. Tudo é disciplina: o que você vai comer, o que vai pôr para dentro para não estragar seu corpo, que tipo de alimentação, que tipo de dieta, porque não se pode comer de tudo nesse mundo, não.
Que tipo de dieta mental você vai fazer? Me conte. Você não faz dieta mental? Está no abandono" Tem uma série de coisas que não vai querer ver, tem uma série de coisas que não vale a pena pensar, vá separando. Em que vai pensar essa semana? Essa é a semana do "eu me amo". Então, vou fazer tudo o que eu sei do eu me amo. Semana que vem? Ah, a semana que vem é do "eu sou forte". E assim vai, fazendo suas dietas mentais, trabalhando daqui, trabalhando dali e quando você vê está forte, está firme, nutrida, está cheia de qualidades, está cheia de coisa boa que desenvolveu. Mas sem disciplina não tem jeito, não! Não me chame, porque eu sou que nem Deus. Eu, hein? A pessoa fez a cama, agora deite. Não tenho pena, não. Uai, por que vou ter pena de você? Você é um ser que nem eu, desgraçado pela própria vontade. Você acha que é um desgraçado?
- Ah, Calunga, não sei, sou inocente ...
- Não vem chorando feito gato perto de mim. Não vem, não, porque os livros estão aí, os cursos, as oportunidades estão aí. Os bons exemplos estão em volta. É só procurar um pouquinho. Boa vontade para ensinar? Ah, o povo quer ensinar o que sabe. É só perguntar, o povo ensina, o povo é bom. Vixe, como o povo é bom para ensinar as coisas. O povo quer ajudar. Perguntou, o povo já diz: "Ah, vem cá, minha filha, que eu te ensino, te dou a receita". Você não pega porque não quer pegar.
- Ah, mas eu quero feito, né, Calunga? Não quero ter o trabalho de fazer. Vou lá na padaria para comprar pronto. Vou no mercado para ver se tem congelado.
- Não exercita, como é que vai fazer? Vai perder a mão na cozinha. O dia em que quiser cozinhar bem para agradar a quem ama, perdeu a mão. Ah, mão de cozinheira também se perde. Por isso que precisa praticar pelo menos um pouquinho. Está certo que você não pode todo dia, está cheia de fazer só isto a vida inteira, então botou uma cozinheira. Você pode? Então, está bom. Mas volta e meia, vá para a cozinha um sábado ou um domingo para não perder tudo o que você aprendeu. Não deixa perder a mão, vá lá bater um bolo, entendeu? Ah, porque agora você virou uma madama, vai ficar o quê? Sonsa, tonta, mesmo? Ora, se ficou uma madama, aproveita bem o seu dinheiro e o seu tempo para enriquecer o seu espírito e não ficar aí nessas besteiras para cima e para baixo. Vá desenvolver seus outros talentos para não ficar nessa moleza e lentidão e acabar no tédio.
Ah, como tem gente encruada nesse mundo! Você é encruada? Aquela vida que não anda, bloqueada, frustrada porque você fica na hipnose da vaidade e não vai fazer o que gosta. Não se valoriza e não valoriza as oportunidades da vida. O povo gosta de ficar na inércia. Sabe o que é inércia? Não é só o povo que não faz nada, aquele povo preguiçoso que fica o dia inteiro na rede. Este também pode estar na inércia, mas tem gente que faz tudo regularmente igual. Até a queixa dos problemas é tudo igual, tudo igual, tudo igual. Então, está na inércia também. Cuida dos outros e não cuida de si. Faz que faz e não sai do lugar. Está na inércia, tudo igual, parado.
- Ah, Calunga, eu trabalho o dia inteiro!
Mas será que você fez algum progresso com você, está mais feliz, mais realizada?
- Estou não, Calunga! Só estou mais cansada.
- Uai, então você está na inércia. É a inércia que cansa. Está aí paradona no mundo. Você também, companheiro, está na inércia: tudo igual, tudo igual, tudo igual! Não andou nada? Não teve nenhum ganho? Só está mantendo a subsistência da vida pagando as contas? Vixe, você está é morto!
Está mais defunto do que eu. Até pior que eu, pois é defunto do tipo enganado, iludido. Pensa que está vivo, mas não está vivendo de verdade. Vai chegar aqui e ficar com a mesma cara de desesperado, sem graça de ver que ficou feito múmia, que não fez nada. Só tomou espaço no mundo. Que inferno!
Então, vamos fazer dessa vida uma coisa boa, saudável, aproveitável, que faça a gente ficar feliz. Não só por causa do amanhã, não! Embora o amanhã seja importante. Se a gente cultiva hoje, sabe que amanhã vai ter com que dar conta do recado, porque a vida sempre cobra. Mas a gente está pensando na gente, em valorizar nossos potenciais, porque a vida é sempre cheia de potenciais. Ah, meu Deus, o que tem de potencial...
Se você soubesse tudo o que sua mão pode aprender a fazer. É infinito! Não tem livro que possa pôr todas as coisas, todos os verbos, todas as obras que sua mão pode fazer. Com a ajuda dos pés, das pernas, dos braços, a coisa aumenta mais. E com a ajuda da inteligência, então, o que você não pode?
Não tem nada que você não possa! O que você pode vir a sentir, experimentar, conquistar, usufruir, realizar, ter prazer. Quantos verbos tão bonitos! Isso porque você saiu da inércia, passou à ação. Não a ação automática, não a ação inconseqüente, viciada, feito um burro de carga, não é isso, não. É a ação renovadora, a ação do desenvolvimento, a ação no crescimento, na crença e na busca do melhor.
Ah, como é bom gente inconformada que vai buscar o melhor. Pois tem tanto melhor aí para você viver. Não se deixe cair nessa encrenca toda. Não fique aí arranjando desculpa:
- Ah, Calunga, é por causa da família. Tem os filhos, o marido. Ah, porque sou casada e a sociedade cobra exige. Então, a gente precisa se sacrificar.
Os homens também entram nessa:
- É, Calunga, a gente tem as responsabilidades. É chefe de família. As coisas estão difíceis, cada dia pior. A sociedade está cada dia mais difícil, o dinheiro está cada dia mais difícil ...
- Como é que está mais difícil, homem de Deus? Se abrir a sua bolsa, tem um telefone sem fio. Como é que pode estar a cada dia mais difícil, me conte?
- Ah, Calunga, não tenho esse telefone, não tenho nem dinheiro para comprar isso.
- Então, meu filho, você é um homem lesado, um homem encruado, um homem estagnado. E não venha se queixar de sua miséria, que Deus nem liga. Pois está aí a vida cheia de chances e você não se mexe, criatura. Se mexa, levante esse traseiro da cadeira da sua inércia. Esse sofazão da sua inércia. Esse vale do sono da sua hipnose. Essa coisa que fica na gente encruando feito banana encruada, feito mesmo goiaba bichada. Pare com isso, meu filho, levante, reaja! Jogue essa porcaria fora, essa cabeça cheia de besteira, areje. Receba a bênção do novo! Procure que você acha, procure novas coisas para conhecer, procure! Largue dessa televisão, homem de Deus. Dê para alguém, dê para os pobres, vá procurar o que fazer. Não é que a televisão seja ruim, mas vocês usam de um modo tão ruim que, às vezes, é melhor mandar embora para parar com esse vício de não fazer nada. Que se divertir? Divertir é só ver porcaria na televisão? Ver filme? Isso para você é se divertir? Se divertir, minha filha, é o dia inteiro com as coisas novas, com as novidades. É com o livro, é com o curso, é com a proposta de trabalho, é com o desafio no emprego, é com o desafio em casa. É inventar moda dentro de casa: arraste os móveis, arranque tudo, dê um baile. Uai, faça qualquer coisa, meu filho. Invente gente para conversar, vá conhecer o que o outro sabe, vá perguntar como é a vida do outro, vá fazer qualquer coisa. Que inércia! Faça alguma coisa com você. Limpe por dentro, abra novas portas, liberte os seus potenciais, liberte o seu espírito. Vamos, meu filho. Não perca a chance, não perca a oportunidade. Ponha vida na sua vida!

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