À medida que o jornalista seguia dando a notícia mais estarrecida e incrédula eu ficava. “Um aluno foi colocado fora da sala de aula por mau comportamento e enquanto o inspetor de aluno o levava para a diretoria ele agrediu o funcionário e foi até sua casa chamar o pai. Este furioso veio imediatamente e destratou todas as autoridades da escola e exigiu que seu filho fosse aceito novamente na sala de aula”
Fiquei contorcendo as mãos esperando o desfecho. Foi pior que eu esperava: o jornalista com fisionomia de reprovação concluiu: “o aluno voltou para a sala e vai permanecer na escola sem nenhum corretivo e lá permanecerá até quando desejar.”
Que falta de atitude! Todos temerosos abaixam a cabeça e aceitam os alunos com resignação. São eles que mandam “no pedaço?”
Gostaria de saber de que as pessoas têm medo. De perderem o mísero salário?
Se for isso, muita acomodação porque pelo que ganha um inspetor de aluno, se ele vender banana na feira talvez ganhe muito mais e não sofrerá esse tipo de humilhação. Dizem que violência gera violência, mas esse menino já é um marginal, consequência de uma família igualmente marginalizada.
Se ele desse uns safanões nesse marginalzinho o que iria acontecer? Talvez o pai fizesse um boletim de ocorrência. E daí?A diretora enfrentasse o pai e com firmeza apoiasse a professora dizendo que realmente ele não entraria na escola se não melhorasse o comportamento. Se fosse a primeira vez poderia até dar uma chance, mas daria um castigo de varrer o pátio por dez dias, lavar o banheiro por uma semana. O pai iria ao conselho tutelar ?E daí?
Imponham, argumentem. Se for parar na delegacia , melhor, quanto maior for o reboliço, mais a história da escola que exige respeito se espalha.
Briguem, lutem pelo seu direito. Uma professora não tem autoridade de exigir respeito dentro da sala de aula, mas o marginalzinho bater no funcionário pode?
No livro: “Se os pais e professores derem-se as mãos” de minha autoria conto uma passagem semelhante a essa.
Tomei atitude: expulsei o aluno, enfrentei diretora e enfrentaria quem mais viesse.
Não devemos deixar que percebam que somos frágeis, que precisamos do emprego, que temos medo de enfrentar situações e conseqüências.
Sempre falei em casa: Se por causa de uma atitude justa eu ou algum de vocês pararem numa delegacia, podem ter certeza que enfrentarei de cabeça erguida. Temos que defender nossos direitos.
No nosso tempo, tínhamos cargo efetivo que nos dava mais segurança. As professoras hoje em dia pertencem a prefeitura que exerce poder absoluto. Pobres pessoas que dependem do mísero salário e por isso aceitam humilhações, perderam toda a autonomia e respeito.
Nessas condições eu acho que nunca teria sido professora, mas se fosse teria o mesmo comportamento. Tenho um marido que me apóia?É verdade, mas também nunca dependeria de homem nenhum para pagar minhas contas. Se necessário fosse, venderia banana na feira, seria costureira, artesã, sei lá... Temos vários talentos, basta ter coragem e enfrentar - todos os trabalho são dignos.
Sinto-me revoltada diante da situação em que nos encontramos. Temo pelo nosso futuro e principalmente no de nossas crianças.
A educação vai de mal a pior. Os pais ignorantes não percebem que os filhos é que perdem mais.
Os professores sofrem, apanham, são mortos. Chegaremos ao ponto de não se ter mais professores para por na sala de aula. A marginalidade cresce. O governo diz que está tudo bem.
E ninguém toma nenhuma ATITUDE.
Escrito por Zilda Costa
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