400 mil alterações na Bíblia. Um caso muito sério!
Pessoas ainda acham que ela é a palavra de Deus
Faz uns três anos, mais ou menos, que uma freira me disse que muitas autoridades religiosas gostariam de escrever para um jornal de grande circulação, tal como é o O TEMPO, abordando os assuntos desta coluna, mas que não podem fazê-lo, pelo seu compromisso de obediência à hierarquia eclesiástica. E acrescentou essa freira que a Igreja precisa de indivíduos como eu, que, segundo ela, sabem das coisas, são livres para expô-las de público, e têm coragem para isso.
Pode-se dizer que assim como há ditaduras políticas, há também as religiosas. E, ao raiar a liberdade democrática em uma nação, entre as primeiras providências advindas do novo regime democrático, incluem-se os preparativos para que se promulgue logo uma nova Constituição, com o objetivo de se aprimorar os direitos consentâneos à cidadania dos seus compatriotas. Como religião, o cristianismo não escapou de sua fase ditatorial, quando certas doutrinas teológicas polêmicas foram impostas à força pela ala ortodoxa da Igreja apoiada pelo poder temporal. E que é de as reformas que deveriam ser feitas depois que chegou ao fim o Tribunal do Santo Ofício? É estranho que certas doutrinas—que os cristãos eram obrigados a aceitar, sob pena de serem condenados, inclusive à pena de morte na fogueira da Inquisição — ainda continuem em vigor, pois tal como acontece com o fim dos regimes de força, deveria acontecer com as doutrinas religiosas impostas à força no passado, ferindo o direito humano de crer ou não crer do indivíduo no que, reciprocamente, está de acordo ou não com a voz de sua consciência, que jamais deveria ser violada. E, assim, toda doutrina religiosa que prevaleceu não pela lógica e a razão, mas por coação, deveria ser revista. Esse é o problema mais grave do cristianismo. E as autoridades eclesiásticas sabem disso—e como sambem! —, mas nada fazem. E, enquanto isso, o cristão anda, cada vez mais, mais descrente!
Nunca foi minha intenção desmoralizar a Igreja ou qualquer outra. Pelo contrário, até desejo que elas reencontrem o caminho certo do verdadeiro cristianismo. Mas a verdade é que alguns dogmas polêmicos só são aceitos por pessoas, que não estudam a Bíblia, a teologia e a história do cristianismo, ou então, que os estudam, mas com viseiras, pois que são comprometidas, profissionalmente, com seu sistema religioso, do qual tiram a sua subsistência. Mas já havia advertido o Nazareno que não podemos servir a Deus e a mamon (dinheiro). E o "Apóstolo dos Gentios" dizia que ele trabalhava para o seu sustento, evitando, assim, pesar para os seus irmãos. Como sobejamente se sabe, as autoridades religiosas prestam uma obediência cega às que lhes são hierarquicamente superiores. E a sua disciplina é tão rigorosa tal qual o é a militar, ou até mesmo, às vezes, mais rigorosa do que a dos militares. Confidenciou-me um padre que Jesus protege de fato a Igreja, caso contrário, ela já se teria sucumbido, pois que o clero e os teólogos cristãos vêm fazendo tudo para destruí-la, ao longo dos séculos! E, embora eu não concorde totalmente com o renomado teólogo Albert Schweitzer, uma sua advertência incomoda- nos: "Quem é vacinado com o soro da teologia cristã, está imunizado contra o espírito do Cristo".
Mas o certo é que a Bíblia, no decorrer dos séculos, sofreu várias transformações, justamente para que fosse adaptada às novas doutrinas teológicas. E há pessoas ingênuas que ainda acham que ela é "ipsis litteris" a palavra de Deus, quando, segundo o maior biblista do mundo, Bart D. Ehrman, Ph.D em teologia pela Princeton University, diretor do Departamento de Estudos Religiosos da University of North Carolina, e autor de "O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse?" (Editorial Prestígio, Ediouro Publicações, Rio, 2006), a Bíblia tem cerca de 400 mil alterações, o que é um caso muito sério!
JOSÉ REIS CHAVES, Teósofo e biblista
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