Você já pensou em todas as vezes que ficou com raiva ou ódio? Existe um provérbiopopular que diz: “sentir raiva ou ódio é como tomar veneno esperando que ooutro morra”.Parece simples, mas não é. Tem tantas coisas quesaem do nosso controle, como perder o horário porque um carro quebra e provocaum congestionamento. Ou, ainda, perder relações por causa da vida estressante que nos impulsiona a viver cada vez mais rápido. Ou,ainda, sonhos esmagados por decisões da diretoria da empresa. Quando issoocorre, temos a tendência a nos frustrar e sentir raiva, ou sentir raiva e nosfrustrarmos. Independente da ordem, um sentimento acompanha o outro. Sempre.Nem que seja por um breve instante, você já percebeu isso?
Sêneca, o Jovem, percebeu. Este filósofo romano,que foi contemporâneo de Cristo, entendeu que a origem da raiva era afrustração. Só que ele foi mais fundo e afirmou que a origem da frustração é aexpectativa. Ou seja, a raiva, que nos faz tão mal, tem origem em expectativasnão cumpridas.
Mas como não sentir raiva quando aquele sacana quepuxa o tapete dos outros consegue a promoção que tanto desejamos? Sêneca falaque, se pensarmos em tudo que pode dar errado, estaremos mais bem preparadospara a eventualidade do errado acontecer. Ooops … isso parece a Lei de Murphy:“Se alguma coisa pode dar errado, certamente dará.” Ou sua variante: “aprobabilidade de um pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é diretamenteproporcional ao valor do tapete”.
A diferença é que a Lei de Murphy é de umpessimismo conformista que nos paralisa. Nos deixa impotente diante dosacontecimentos. No lado oposto, existem também os pseudofilósofos que falam:“deseje de todo o coração que o universo conspira por você”. Também não é o queSêneca nos fala. Na realidade, Sêneca sugere buscarmos de coração pelo nossosonho, mas nos prepararmos para o caso dele não acontecer. Tenha fé, mas saibaque você não controla todas as variáveis. Com isso você evita a frustração e oestresse, mas não perde a paixão.
Sêneca é complexo, mas não é à toa que suas idéiasforam largamente utilizadas no humanismo. Não gosta do pensamento positivo, nemdo negativo, pois acredita que eles impedem o ser humano de progredir. Ele querque tenhamos a capacidade de desejar, sem perder a capacidade de decidir. Terfé, mas que ela não seja cega.
Para simplificar Sêneca, imagine-se num barco àvela, numa época em que não existia aparelhos de GPS, bússola, ou sextante. Vocêse guia pelas estrelas, seus sonhos, mas tem de ir atrás do vento, emzigue-zague, para continuar se movendo. Tem que desviar das ondas perigosas edos obstáculos que aparecem à sua frente, mas sem perder sua estrela de vista.
Que tal terminar esse artigo com a frase que oconsagrou?
- “Para aqueles que não sabem para que porto vão,nenhum vento é bom” – Sêneca, O Jovem, 4 a.C a 65 d.C..
By Marcelo Aguilar publicado na Revista Você SA.
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