sábado, 25 de fevereiro de 2012

A terapia de Ho’oponopono para resolver conflitos

por Jens Federico Weskott
A tradicional prática havaiana chamada Ho’oponopono quer dizer ‘pôr as coisas em ordem’ e se refere a um reunião familiar na qual os relacionamentos são ‘consertados’ através de debates, confissões, arrependimentos, restituição mútua, perdão e preces. Esta valiosa ferramenta terapêutica, comum nas famílias tradicionais, após a chegada do Cristianismo (1820) continuou a ser praticada na cultura havaiana. Em nossos dias está recebendo a maior atenção quando famílias e comunidades procuram meios de resolver problemas. Segundo um psicanalista moderno “é um dos métodos mais sadios de restabelecer e manter bons relacionamentos familiares que uma sociedade já tenha instituído”.
Para os antigos havaianos, doenças e desgraças vinham de desequilíbrios entre as pessoas e entra pessoas e deuses. Acreditavam que todas as coisas da vida estavam relacionadas e por isso os conflitos entre dois membros afetavam o grupo todo.
A palavra havaiana para família, ohana, se refere à família ampliada de relacionamentos, porém tem forte conotação espiritual. Não apenas incluía os parentes sangüíneos, mas também amigos íntimos da família, crianças adotadas por familiares, os espíritos dos ancestrais mortos e os espíritos guardiães pessoais.
Com freqüência, uma sessão de ho’oponopono era convocada quando um familiar adoecia seriamente. Para o método kahuna de cura, um padrão emocional negativo é capaz de bloquear o acesso aos deuses e tornar todo trabalho com o paciente sem efeito. A sessão esclarecia ao kahuna a origem do problema.
Às vezes, o ho’oponopono era usado em uma família com problemas antes de uma criança nascer – pensava-se que as desavenças familiares poderiam ser um obstáculo a um parto sadio. Também podia ser convocado quando um membro estava apreensivo frente a um presságio ruim ou um sonho perturbador.
No início do processo convocava-se uma reunião familiar. Era esperado que todos se esforçassem para participar, se preciso fosse, vindo de longe. Tais encontros poderiam demorar algumas horas ou estender-se por dias e semanas.
Quem coordenava era a ‘cabeça de família’ ou, se adultos estavam por demais envolvidos para permanecer objetivos, por um amigo ou um kahuna conhecido pela família. A prece inicial chamava os guardiães familiares pedindo sua presença e ajuda no processo. Os passos seguinte acompanhavam um ritual pré-fixado: identificar o problema, determinar a transgressão, debater, detectar implicações emocionais negativas, compartilhar sentimentos, confissões, resolução do problema, reafirmação de laços e prece final.
Nesses passos havia certas regras a serem observadas. Com emoções envolvidas, os membros podiam comunicar-se através do líder, sem raiva nem levantar a voz. Esperava-se de todos um espírito de abertura na sincera procura da verdade, sem magoar ou insultar ninguém. Quando os ânimos se exaltavam, o líder podia interromper para um esfriamento.
Os familiares tentavam chegar ao cerne da questão num processo similar a ‘descascar uma cebola’. Ao debater o problema, chega-se cada vez mais a camadas mais profundas. Uma vez identificado o problema e discutido em profusão, a família descobria os aspectos negativos a serem dissolvidos. Isso pode levar tanto a confissões quanto a restituições. Qualquer espécie de restituição era decidida e aprovada pelas partes envolvidas.
Então, o problema era ritualmente dissolvido e ‘encerrado’ por todos os participantes. O líder resumia os fatos durante a sessão e verificava se todos os aspectos haviam sido focados. Acontecia uma reafirmação dos laços familiares e uma prece de encerramento. Via de regra, o Ho’oponopono finalizava-se com um banquete.
O segundo passo do processo – a identificação do problema – possui no havaiano o significado mais amplo de ‘juntar forças emocionais, psíquicas e espirituais para um propósito compartilhado’. No fundo, é a chave do processo em si – um encontro mútuo em todos os níveis a fim de pôr as coisas em ordem. Num parâmetro familiar, um remédio poderoso.
No contexto atual, o ho’oponopono pode ser usado não apenas por famílias, mas também por grupos empresariais, turmas de amigos, até casais e indivíduos isolados. Imagine o sucesso no mundo corporativo de sessões abertas e honestas entre funcionários ao surgir um problema. Observando certas regras, cabe empregar a terapia para dois, mesmo sem um líder.
Pessoas podem usar o ho’oponopono como parte da prática Huna de remover bloqueios e negatividade, a fim de tornar suas preces efetivas, de modo que a energia mana possa fluir ao Eu Superior. Um autor, Allan P. Lewis, propõe uma prática geral para desanuviar a mente: ‘Infinito Criador Divino, se eu, meus familiares ou antepassados ofenderam a Ti ou Teus filhos por meio de pensamentos, palavras ou ações, desde o começo da Criação até o presente, peço sinceramente perdão a Ti e aos envolvidos. Perdoa todos os erros e ofensas. Perdoa todas as culpas e ressentimentos. Perdoa todos os bloqueios e fixações criadas’.
Morrnah N. Simeona, uma professora havaiana que orienta workshops internacionais de ho’oponopono, usa um método escrito. Solicita aos estudantes anotar todo o que desejam jogar fora em suas vidas – assim, tudo é ritualmente purificado e dissolvido.
A prática individual requer um alto grau de preparação mental para dar resultado. É preciso dedicar tempo e registrar em um diário seus pensamentos e sentimentos acerca do seu problema. Em outras palavras, faça os próprios passos do ho’oponopono identificando, compreendendo e equacionando seu conflito. Se não realiza esse importante trabalho de casa e apenas efetua o ritual, desaparecerá por um tempo para retornar novamente.
Ir ao âmago do conflito pode levar a procurar ajuda externa de um amigo, conselheiro ou profissional. Faça o que for preciso fazer a fim de investigar a área de desarmonia de sua vida. Uma vez feito todo isso, procure um meio de agir no âmbito material para resolver o problema. Estabeleça certas ações a realizar no futuro e registre-as. Verifique que tanto seu eu básico (subconsciente) quanto seu Eu Superior (Superconsciente) estejam de acordo com suas ações. Uma vez colocado isso por escrito, faça a limpeza, a qual ritualmente dissolve o problema.
O Ho’oponopono é um ritual muito útil que pode ser usado em situações conflitivas nas famílias, empresas e grupos. Seus princípios subjacentes são:
1. lesões, mágoas, raiva, vergonha ou culpa não resolvidas podem causar doenças no corpo ou outras desarmonias;
2. um problema entre dois membros afeta o grupo inteiro;
3. conflitos superficiais com freqüência são gerados por mágoas ocultas;
4. poderes mais elevados assistem aqueles que trabalham para resolver conflitos;
5. há forças especiais nos propósitos compartilhados de uma família trabalhando junto para resolver problemas;
6. o perdão sincero pode remover obstáculos emocionais negativos;
7. preces são essenciais;
8. relacionamentos podem ser curados.
Condensado de Charlotte Berney, Hawaiian Mysticism

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