por Jens Federico Weskott
A tradicional prática
havaiana chamada Ho’oponopono quer dizer ‘pôr as coisas em ordem’ e se refere a
um reunião familiar na qual os relacionamentos são ‘consertados’ através de
debates, confissões, arrependimentos, restituição mútua, perdão e preces. Esta
valiosa ferramenta terapêutica, comum nas famílias tradicionais, após a chegada
do Cristianismo (1820) continuou a ser praticada na cultura havaiana. Em nossos
dias está recebendo a maior atenção quando famílias e comunidades procuram meios
de resolver problemas. Segundo um psicanalista moderno “é um dos métodos mais
sadios de restabelecer e manter bons relacionamentos familiares que uma
sociedade já tenha instituído”.
Para os antigos havaianos, doenças e
desgraças vinham de desequilíbrios entre as pessoas e entra pessoas e deuses.
Acreditavam que todas as coisas da vida estavam relacionadas e por isso os
conflitos entre dois membros afetavam o grupo todo.
A palavra havaiana para
família, ohana, se refere à família ampliada de relacionamentos, porém
tem forte conotação espiritual. Não apenas incluía os parentes sangüíneos, mas
também amigos íntimos da família, crianças adotadas por familiares, os espíritos
dos ancestrais mortos e os espíritos guardiães pessoais.
Com freqüência,
uma sessão de ho’oponopono era convocada quando um familiar adoecia seriamente.
Para o método kahuna de cura, um padrão emocional negativo é capaz de bloquear o
acesso aos deuses e tornar todo trabalho com o paciente sem efeito. A sessão
esclarecia ao kahuna a origem do problema.
Às vezes, o ho’oponopono era
usado em uma família com problemas antes de uma criança nascer – pensava-se que
as desavenças familiares poderiam ser um obstáculo a um parto sadio. Também
podia ser convocado quando um membro estava apreensivo frente a um presságio
ruim ou um sonho perturbador.
No início do processo convocava-se uma
reunião familiar. Era esperado que todos se esforçassem para participar, se
preciso fosse, vindo de longe. Tais encontros poderiam demorar algumas horas ou
estender-se por dias e semanas.
Quem coordenava era a ‘cabeça de família’ ou,
se adultos estavam por demais envolvidos para permanecer objetivos, por um amigo
ou um kahuna conhecido pela família. A prece inicial chamava os guardiães
familiares pedindo sua presença e ajuda no processo. Os passos seguinte
acompanhavam um ritual pré-fixado: identificar o problema, determinar a
transgressão, debater, detectar implicações emocionais negativas, compartilhar
sentimentos, confissões, resolução do problema, reafirmação de laços e prece
final.
Nesses passos havia certas regras a serem observadas. Com emoções
envolvidas, os membros podiam comunicar-se através do líder, sem raiva nem
levantar a voz. Esperava-se de todos um espírito de abertura na sincera procura
da verdade, sem magoar ou insultar ninguém. Quando os ânimos se exaltavam, o
líder podia interromper para um esfriamento.
Os familiares tentavam
chegar ao cerne da questão num processo similar a ‘descascar uma cebola’. Ao
debater o problema, chega-se cada vez mais a camadas mais profundas. Uma vez
identificado o problema e discutido em profusão, a família descobria os aspectos
negativos a serem dissolvidos. Isso pode levar tanto a confissões quanto a
restituições. Qualquer espécie de restituição era decidida e aprovada pelas
partes envolvidas.
Então, o problema era ritualmente dissolvido e
‘encerrado’ por todos os participantes. O líder resumia os fatos durante a
sessão e verificava se todos os aspectos haviam sido focados. Acontecia uma
reafirmação dos laços familiares e uma prece de encerramento. Via de regra, o
Ho’oponopono finalizava-se com um banquete.
O segundo passo do processo – a
identificação do problema – possui no havaiano o significado mais amplo de
‘juntar forças emocionais, psíquicas e espirituais para um propósito
compartilhado’. No fundo, é a chave do processo em si – um encontro mútuo em
todos os níveis a fim de pôr as coisas em ordem. Num parâmetro familiar, um
remédio poderoso.
No contexto atual, o ho’oponopono pode ser usado não
apenas por famílias, mas também por grupos empresariais, turmas de amigos, até
casais e indivíduos isolados. Imagine o sucesso no mundo corporativo de sessões
abertas e honestas entre funcionários ao surgir um problema. Observando certas
regras, cabe empregar a terapia para dois, mesmo sem um líder.
Pessoas podem
usar o ho’oponopono como parte da prática Huna de remover bloqueios e
negatividade, a fim de tornar suas preces efetivas, de modo que a energia mana
possa fluir ao Eu Superior. Um autor, Allan P. Lewis, propõe uma prática geral
para desanuviar a mente: ‘Infinito Criador Divino, se eu, meus familiares ou
antepassados ofenderam a Ti ou Teus filhos por meio de pensamentos, palavras ou
ações, desde o começo da Criação até o presente, peço sinceramente perdão a Ti e
aos envolvidos. Perdoa todos os erros e ofensas. Perdoa todas as culpas e
ressentimentos. Perdoa todos os bloqueios e fixações criadas’.
Morrnah N.
Simeona, uma professora havaiana que orienta workshops internacionais de
ho’oponopono, usa um método escrito. Solicita aos estudantes anotar todo o que
desejam jogar fora em suas vidas – assim, tudo é ritualmente purificado e
dissolvido.
A prática individual requer um alto grau de preparação mental
para dar resultado. É preciso dedicar tempo e registrar em um diário seus
pensamentos e sentimentos acerca do seu problema. Em outras palavras, faça os
próprios passos do ho’oponopono identificando, compreendendo e equacionando seu
conflito. Se não realiza esse importante trabalho de casa e apenas efetua o
ritual, desaparecerá por um tempo para retornar novamente.
Ir ao âmago
do conflito pode levar a procurar ajuda externa de um amigo, conselheiro ou
profissional. Faça o que for preciso fazer a fim de investigar a área de
desarmonia de sua vida. Uma vez feito todo isso, procure um meio de agir no
âmbito material para resolver o problema. Estabeleça certas ações a realizar no
futuro e registre-as. Verifique que tanto seu eu básico (subconsciente) quanto
seu Eu Superior (Superconsciente) estejam de acordo com suas ações. Uma vez
colocado isso por escrito, faça a limpeza, a qual ritualmente dissolve o
problema.
O Ho’oponopono é um ritual muito útil que pode ser usado em
situações conflitivas nas famílias, empresas e grupos. Seus princípios
subjacentes são:
1. lesões, mágoas, raiva, vergonha ou culpa não
resolvidas podem causar doenças no corpo ou outras desarmonias;
2. um
problema entre dois membros afeta o grupo inteiro;
3. conflitos superficiais
com freqüência são gerados por mágoas ocultas;
4. poderes mais elevados
assistem aqueles que trabalham para resolver conflitos;
5. há forças
especiais nos propósitos compartilhados de uma família trabalhando junto para
resolver problemas;
6. o perdão sincero pode remover obstáculos emocionais
negativos;
7. preces são essenciais;
8. relacionamentos podem ser
curados.
Condensado de Charlotte Berney, Hawaiian
Mysticism
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