domingo, 9 de dezembro de 2012

Enxaqueca com aura intensifica distúrbios do equilíbrio

Além da dor intensa e do transtorno que costuma causar, a enxaqueca traz consigo outros males: tonturas, comprometimento da estabilidade postural, desequilíbrio dinâmico e alterações na marcha. Esses sintomas são agravados quando a enxaqueca vem acompanhada da aura, sintoma neurológico que provoca fenômenos visuais, como pontos de luz e flashes.

A enxaqueca afeta cerca de 12% da população mundial, principalmente mulheres
Essas descobertas foram reveladas durante estudo realizado pela fisioterapeuta Gabriela Ferreira Carvalho, no Núcleo de Apoio a Pesquisa em Doenças Crônico-Degenerativas (NAP-DCD) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. O trabalho de Gabriela foi o primeiro a mostrar que a aura intensifica os distúrbios de equilíbrio que afetam os enxaquecosos.
Trabalhando sob orientação da professora Débora Bevilaqua Grossi, Gabriela avaliou 92 mulheres, sendo que 31 apresentavam diagnóstico de enxaqueca com aura, 31 eram enxaquecosas sem aura e 30 não sofriam de dor de cabeça.
Os resultados revelaram maior desequilíbrio em pacientes com enxaqueca e aura associadas, tanto na avaliação onde os dois pés estavam apoiados, quanto com o apoio em um só pé. A agilidade durante a caminhada também foi menor nas mulheres com enxaqueca. Os sintomas de tontura acompanharam 80% daquelas com aura e 65% do grupo sem aura.
Quem já teve crise de enxaqueca conhece bem o transtorno que causa na vida de qualquer um. E o sofrimento não se restringe a poucos. A doença é extremamente frequente, afetando em torno de 12% da população em todo o mundo, sejam homens, mulheres e até crianças. Outro fato de reconhecimento mundial é a predisposição feminina para o problema. Acomete entre 18% e 20% das mulheres contra apenas 4% a 6% dos homens, com pico de prevalência nos anos produtivos, entre 25 e 55 anos idade.
Impacto na qualidade de Vida
A pesquisadora explica que a enxaqueca é uma cefaleia de alta prevalência que pode estar associada a complicações isquêmicas do tecido cerebral. Na presença de aura, verifica-se maior frequência de danos nas regiões do cerebelo e do sistema vestibular e as repercussões clínicas dessas anomalias ainda são desconhecidas.
O estudo constatou que, mesmo sem a presença da aura, a enxaqueca compromete a velocidade da caminhada. Esses achados, garante a pesquisadora, abrem novos caminhos para investigar a doença e aponta para a necessidade de novos tratamentos e orientação aos pacientes, levando em conta a interferência da aura, por exemplo.
Como a enxaqueca com ou sem aura compromete a estabilidade e a mobilidade, o resultado é de impacto significante nas atividades de vida diária das pessoas. Assim, a fisioterapeuta está preocupada em apontar tratamentos preventivos contra o comprometimento funcional desses pacientes. Gabriela acredita na importância das investigações sobre as alterações na marcha e também na verificação de eventual agravamento do quadro com o processo de envelhecimento.
A preocupação com qualidade de vida a longo prazo faz sentido, já que os atuais resultados foram obtidos em estudos com mulheres jovens —média de 33 a 38 anos — da região de Ribeirão Preto. Tinham diferentes níveis de instrução, desde ensino fundamental incompleto até superior completo. Apresentavam alta intensidade de dor e frequência média de sete crises por mês e não possuíam nenhum outro tipo de doença.
A pesquisa Avaliação do equilíbrio, agilidade e impacto da tontura em migranosos com e sem aura recebeu o prêmio “Wilson de Farias” durante o último Congresso Brasileiro de Cefaleia, realizado no Rio de Janeiro, em setembro desse ano. Foi reconhecido pelos especialistas como o melhor trabalho apresentado em todo o congresso.
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email gabriela.fisioterapia@gmail.com

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