Por Osvino Toillier, presidente do Sinepe/RS
A sociedade é, no mínimo, curiosa: cria um problema, escolhe um boneco e bate nele. Primeiro, foi a droga, largamente usada e tolerada, mas, quando apareceu na escola, foi um escândalo. Agora, é a violência, e a reação é a mesma. Artigos, debates pelo rádio e pela televisão, mas, em síntese, o problema é da escola: como é que se pode admitir falta de respeito em sala de aula, humilhação e agressão ao professor?
Vamos ser honestos: numa sociedade que há tempo – e faz tempo! – desconstituiu a autoridade da instituição educacional (e do professor, por extensão), não pode ser nenhuma surpresa o agravamento do quadro, a ponto de aluna mandar professora para o hospital.
Como sou veterano nesta história, volto-me aos tempos da década de 60, quando iniciei a atividade docente. No início da década de 70, ingressei na função diretiva, de forma que, em ambas as funções, foram três décadas de carreira. A aula era iniciada com os alunos em pé para receber o professor, em silêncio, como ritual de trabalho, sem nenhuma outra conotação. Era apenas início ordeiro, com respeitoso cumprimento ao mestre para o início da jornada.
Assim o foi até a metade da década de 80, quando me transferi do Interior para a Região Metropolitana, onde esse ritual não existia mais, e a disciplina era exercida de outra forma. Tive de apelar para toda minha habilidade e fazer a travessia pessoal para o novo paradigma, muito mais liberal e em que se toleravam procedimentos que anteriormente não se admitiriam. Foi nessa época que também se passou a ter dificuldade de aprovar o regimento escolar junto ao órgão público se abrigasse algum dispositivo disciplinar que falasse em punição. E, à luz de interpretação equivocada do Estatuto da Criança e do Adolescente, aí, sim, se agravou o quadro. E, finalmente, o Código de Defesa do Consumidor passou a ser invocado como proteção ao cliente. Algumas instituições, a pretexto de modernidade, substituíram diretor por gestor, e a piazada começou a se apresentar com a prerrogativa máxima: “O cliente sempre tem razão”.
Sem querer estabelecer juízo de valor, foi necessário mergulhar no caos para se dar conta de que o barco estava à deriva, e os mais ágeis insurgiram-se contra os desmandos e partiram firme e decididamente para o restabelecimento da autoridade.
Não será por passe de mágica que esta confusão será superada, até porque a escola também tolerou ser desconstituída, e o professor curvou-se diante do quadro de permissividade. E os pais esqueceram-se de que eles são os primeiros e eternos educadores; os professores, em sequência, dão continuidade ao processo.
Finalmente, é preciso não separar autoridade de relação amorosa com o aluno, porque sem esta dimensão não há educação de verdade. “Somente o amor é incapaz de querer o mal” e resgata o caráter de sacralidade da escola.
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